sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Todas as coisas por meio do Verbo constituem uma harmonia admirável e verdadeiramente divina


Nada há do que existe e acontece que não tenha sido feito e não tenha consistência no Verbo e por meio do Verbo, como ensina o Teólogo: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por meio d’Ele, e sem Ele nada foi feito.

Como o músico com a lira bem afinada, combinando habilmente os sons graves com os agudos e os intermédios, executa uma harmonia, assim também a Sabedoria de Deus, tomando em suas mãos o universo como uma lira, associando as coisas do ar com as da terra e as do céu com as do ar, harmonizando o singular com o todo, segundo a sua vontade e beneplácito, criou um mundo unificado, formosa e harmoniosamente ordenado. O mesmo Verbo de Deus, sem deixar de permanecer imutável junto do Pai, põe em movimento todas as coisas segundo a natureza de cada uma, de acordo com a vontade do Pai. E assim, todas as coisas, segundo a própria natureza, vivem e subsistem por meio d’Ele, e por Ele constituem uma harmonia admirável e verdadeiramente divina.

Tratemos de explicar esta realidade tão sublime por meio de uma imagem: tomemos o exemplo dum numeroso coro. Num coro composto por muitas pessoas diferentes – homens e mulheres, crianças, velhos e adolescentes – sob a regência do diretor, cada um canta segundo a própria natureza e capacidade: o homem com voz de homem, a criança com voz de criança, a mulher com voz de mulher, o adolescente com voz de adolescente; e no entanto, de todo o conjunto resulta uma só harmonia. Outro exemplo. A nossa alma põe simultaneamente em movimento todos os nossos sentidos, cada um segundo a sua atividade específica; e assim, na presença de algum estímulo exterior, todos se põem em movimento ao mesmo tempo: o olho vê, o ouvido escuta, a mão toca, o nariz cheira, a língua saboreia, e ainda outros membros do corpo se movem, como por exemplo os pés, que se põem a caminhar. De maneira semelhante acontece na criação em geral.

Certamente, os exemplos ficam muito aquém da realidade, e por isso é necessária uma reflexão mais profunda para compreender a verdade que querem ilustrar.

Concluindo: a um só sinal da vontade do Verbo de Deus, todas as coisas foram tão bem organizadas que, exercendo cada uma a atividade que lhe é própria, constituem todas juntas uma só ordem perfeita.


Do Tratado de Santo Atanásio, bispo, «Contra os pagãos»
(Nn. 42-43: PG 25, 83-87) (Sec. IV)

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