Confiemos firmemente na bênção de Deus e vejamos quais são os caminhos que a ela conduzem. Consideremos os acontecimentos que se verificaram desde o princípio. Por que motivo Abraão nosso pai recebeu a bênção? Não foi porque praticou a justiça e a verdade por meio da fé? Isaac, conhecendo o futuro, deixou-se conduzir confiada e voluntariamente ao sacrifício. Jacob, com humildade, afastou-se da sua terra, por causa do irmão, e partiu para junto de Labão, colocando-se ao seu serviço; e foram-lhe dados os doze cetros de Israel.
Considerando com sinceridade cada um destes dons concedidos, reconhecer-se-á a sua magnificência. De Jacob descenderam todos os sacerdotes e levitas que serviam o altar de Deus; dele descende, segundo a carne, o Senhor Jesus; dele vieram os reis, os príncipes e os chefes da tribo de Judá. Quanto às outras suas tribos, também não foi pequena a sua glória, conforme a promessa do Senhor: A tua descendência será como as estrelas do céu. Todos eles alcançaram glória e grandeza, não por si mesmos ou pelas suas obras ou pela justiça das suas ações, mas por vontade de Deus. Também nós, por sua vontade chamados em Cristo Jesus, não somos justificados por nós mesmos, nem pela nossa sabedoria, inteligência ou piedade, nem pelas obras que fizemos com santidade de coração, mas pela fé, pela qual Deus onipotente justificou a todos desde o princípio. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Que faremos então, irmãos? Deixaremos de fazer o bem e abandonaremos a caridade? Não permita o Senhor que tal aconteça entre nós, antes nos apressemos com diligência e fervor de espírito a praticar toda a espécie de boas obras. Imitemos o Criador e Senhor de todas as coisas, que Se alegra com as suas obras. Com o seu poder supremo fez os céus e os adornou com incompreensível sabedoria; separou a terra firme da água que a cobria e estabeleceu-a sobre o seguro fundamento da sua vontade; com uma ordem, chamou à existência os animais que se movem sobre a terra, e também, com o seu poder, criou o mar e os animais que nele vivem.
Depois de tudo isto, com as suas mãos santas e puríssimas formou o homem, o ser mais excelente e mais nobre pela dignidade da sua inteligência, imprimindo-lhe os traços da sua própria imagem. Assim disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança; e Deus criou o homem, homem e mulher os criou. Tendo concluído todas as suas obras, louvou-as e abençoou-as, e mandou aos seres vivos: Crescei e multiplicai-vos. Reparemos que todos os justos se adornaram com boas obras e o próprio Senhor Se adornou e alegrou com boas obras. Animados com este exemplo, entreguemo-nos com diligência ao cumprimento da sua vontade e com todas as forças pratiquemos as obras da justiça.
Da Epístola de São Clemente I, papa, aos Coríntios
(Nn. 31-33: Funk 1, 99-103) (Sec. I)
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