segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Renovar os sentimentos de paz


Evitem os homens confiar apenas nos esforços de alguns, sem tratarem de modificar a sua própria mentalidade. Os governantes dos povos, que são os responsáveis pelo bem comum do seu povo e ao mesmo tempo os promotores do bem do mundo inteiro, estão muito influenciados pela opinião pública e pela mentalidade geral dos homens. Nada poderão fazer em favor da paz, se os sentimentos de hostilidade, desprezo e desconfiança, os ódios raciais e as ideologias obstinadas dividem e opõem os homens entre si. Daí a urgente necessidade duma renovada educação das mentalidades e duma nova orientação da opinião pública. 

Aqueles que se consagram à obra da educação, sobretudo da juventude, ou contribuem para formar a opinião pública, têm o gravíssimo dever de inculcar no espírito de todos novos sentimentos de paz. Todos temos de reformar o nosso coração, de olhos postos no mundo inteiro e no trabalho que podemos realizar em conjunto, para o progresso do género humano. 

Não nos engane uma falsa esperança. Se não desaparecerem as inimizades e os ódios e não se estabelecerem tratados firmes e honestos para o futuro de uma paz universal, a humanidade, já hoje ameaçada por graves perigos, apesar dos seus admiráveis progressos científicos, talvez seja funestamente arrastada para aquela hora em que não conhecerá outra paz além da horrenda paz da morte. Mas enquanto recorda esta realidade, a Igreja de Cristo, que participa das angústias do nosso tempo, não deixa de alimentar a mais firme esperança. Aos homens de hoje ela propõe com insistência, quer queiram quer não, a mensagem do Apóstolo: Eis o tempo favorável para a conversão dos corações, eis os dias da salvação. 

Para edificar a paz, é preciso, antes de mais, eliminar as causas da discórdia que alimentam as guerras entre os homens, sobretudo as injustiças. Muitas delas provêm das excessivas desigualdades económicas e também da lentidão em lhes dar os remédios necessários. Outras, porém, nascem da ambição de domínio e do desprezo das pessoas; e se procuramos descobrir causas mais profundas, encontramos a inveja, a desconfiança, a soberba e outras paixões egoístas. 

Como o homem não pode suportar tantas desordens, a consequência de tudo isso é que o mundo, mesmo sem as atrocidades da guerra, vê-se continuamente envolvido em contendas e violências. Além disso, como estes mesmos males se verificam nas relações entre as diversas nações, é absolutamente necessário, para os vencer ou evitar e para conter as violências desenfreadas, que as instituições internacionais desenvolvam cada vez mais e melhor a sua cooperação e coordenação e que se estimule sem cessar a criação de organismos promotores da paz.


Da Constituição pastoral Gaudium et spes, do Concílio Vaticano II, sobre a Igreja no mundo contemporâneo (Nn. 82-83) (Sec. XX)

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