Ouçamos o que diz o Senhor ao enviar os pregadores do Evangelho: A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe. Os trabalhadores são poucos para messe tão grande; não podemos falar nesta escassez de operários do Evangelho sem deixar de sentir uma profunda tristeza, pois embora haja quem esteja disposto a escutar a Boa Nova, faltam os pregadores. O mundo está cheio de sacerdotes, mas são raros os que encontramos a trabalhar na messe de Deus. Recebemos o ministério sacerdotal, mas não cumprimos as exigências desse ministério.
Refleti, irmãos caríssimos, reflecti no que dizemos: Rogai ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe. Rogai também por nós, para que sejamos capazes de trabalhar por vós como convém, para que a nossa língua não deixe de exortar-vos, de modo que, tendo recebido o ministério da pregação, não sejamos um dia acusados diante do justo Juiz pelo nosso silêncio. Muitas vezes é a própria maldade dos pregadores que lhes impede de fazer ouvir a sua voz; outras vezes é por culpa dos súbditos que a palavra dos que presidem às nossas comunidades não chega aos ouvidos do povo.
Efectivamente, a língua dos pregadores pode ver-se paralisada pela sua própria maldade, como afirma o salmista: Ao ímpio Deus declara: como falas tanto na minha lei? Por sua vez, a maldade dos súbditos pode fechar a boca dos pregadores, como diz o Senhor ao profeta Ezequiel: Pegarei a tua língua ao céu da boca e ficarás mudo; e não os poderás repreender, porque são um povo de rebeldes. É como se dissesse abertamente: «Vou tirar-te da boca as palavras da pregação, porque esse povo continua a irritar-Me com seus actos e não é digno de ser exortado à verdade». Não é fácil saber por culpa de quem é retirada a palavra ao pregador; mas o que facilmente se vê é que o silêncio do pastor é sempre prejudicial para o povo e, algumas vezes, para o próprio pregador.
Há outra coisa, caríssimos irmãos, que me aflige profundamente na vida dos sacerdotes; mas para que a ninguém pareça injurioso o que vou dizer, acuso-me também a mim mesmo, apesar de me encontrar neste lugar, não por minha vontade, mas obrigado por este tempo calamitoso em que vivemos.
Somos arrastados muitas vezes para assuntos profanos, o que não corresponde às exigências da missão sacerdotal. Abandonamos o ministério da pregação e, para nossa vergonha, continuamos a chamar-nos bispos, tendo de bispos o título honorífico mas não a virtude. Abandonam a Deus os que nos foram confiados e calamo-nos. Vivem imersos no pecado e não estendemos a mão para os corrigir e salvar.
Mas como podemos nós corrigir a vida dos outros, se descuidamos a nossa? Envolvidos nos cuidados mundanos, vamo-nos tornando tanto mais insensíveis às realidades interiores do espírito, quanto mais nos dedicamos às coisas exteriores do mundo.
Com razão diz a santa Igreja a propósito dos seus membros enfermos: Puseram-me a guardar as vinhas e não fui capaz de guardar a minha própria vinha. Escolhidos como guardas das vinhas, não guardamos sequer a nossa vinha, porque, en- tregando-nos a actividades estranhas, descuidamos os deveres do nosso ministério.
Das Homilias de São Gregório Magno, papa, sobre os Evangelhos
(Hom. 17.3, 14: PL 76, 1139-1140.1146) (Sec. VI)
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