segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Todos os Santos*


"Vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé diante do Trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão". A visão narrada por são João Evangelista, no Apocalipse, fala dos santos aos quais é dedicado o dia de hoje. 

Na festa de “todos os santos” a Igreja não pretende lembrar somente dos santos conhecidos e oficialmente canonizados, mas de todos aqueles que estão nos céus, de todos aqueles que só Deus conhece a santidade. A Igreja nesse dia comemora todos os homens e mulheres que já alcançaram a glória eterna e por isso mesmo intercedem por nós a todo o momento. 

De fato todos os homens e mulheres que durante a vida serviram a Deus e foram obedientes ao ensinamento de Jesus Cristo são santos diante de Deus, ainda que seus nomes não sejam oficialmente coletados em listas canônicas. 

A celebração começou no século III na Igreja do Oriente e ocorria no dia 13 de maio. A festa de Todos os Santos ocorreu pela primeira vez em Roma, no dia 13 de maio de 609 quando o Papa Bonifácio IV transformou o templo de Partenon, dedicado a todos os deuses pagãos do Olimpo, em uma igreja em honra à Virgem Maria e a todos os Santos. 

Oficialmente a mudança do dia da festa de Todos os Santos, de 13 de maio para o dia primeiro de novembro, só foi decretada em 1475, pelo do Papa Xisto IV. Mas o importante é que a solenidade de todos os Santos enche de sentido a homenagem de todos os finados, que ocorre no dia seguinte.

Nós também podemos ser santos. Quando trabalhamos com ânimo no dia-a-dia. Quando suportamos com espírito forte as dores e os problemas de nossa vida, entregando tudo às mãos da providencia divina. Quando rezamos com amor e devoção de forma regular e cotidiana. É necessário que peçamos a Deus o dom da santidade! Finalmente devemos ter aquele grande amor pelas coisas de Deus, por Cristo por Maria e pelos homens.


Deus de amor e de bondade, dai-nos a alegria de celebrar, numa única festa, os méritos e a glória de todos os Santos. Favorecei vosso povo com a intercessão dos vossos santos e santas e guia-nos sempre nos caminhos da paz. Por cristo nosso Senhor. Amém.
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* No Brasil, por razões pastorais, quando esta solenidade não coincide com um domingo, é celebrada no domingo seguinte para favorecer a participação dos fiéis.

Renovar os sentimentos de paz


Evitem os homens confiar apenas nos esforços de alguns, sem tratarem de modificar a sua própria mentalidade. Os governantes dos povos, que são os responsáveis pelo bem comum do seu povo e ao mesmo tempo os promotores do bem do mundo inteiro, estão muito influenciados pela opinião pública e pela mentalidade geral dos homens. Nada poderão fazer em favor da paz, se os sentimentos de hostilidade, desprezo e desconfiança, os ódios raciais e as ideologias obstinadas dividem e opõem os homens entre si. Daí a urgente necessidade duma renovada educação das mentalidades e duma nova orientação da opinião pública. 

Aqueles que se consagram à obra da educação, sobretudo da juventude, ou contribuem para formar a opinião pública, têm o gravíssimo dever de inculcar no espírito de todos novos sentimentos de paz. Todos temos de reformar o nosso coração, de olhos postos no mundo inteiro e no trabalho que podemos realizar em conjunto, para o progresso do género humano. 

Não nos engane uma falsa esperança. Se não desaparecerem as inimizades e os ódios e não se estabelecerem tratados firmes e honestos para o futuro de uma paz universal, a humanidade, já hoje ameaçada por graves perigos, apesar dos seus admiráveis progressos científicos, talvez seja funestamente arrastada para aquela hora em que não conhecerá outra paz além da horrenda paz da morte. Mas enquanto recorda esta realidade, a Igreja de Cristo, que participa das angústias do nosso tempo, não deixa de alimentar a mais firme esperança. Aos homens de hoje ela propõe com insistência, quer queiram quer não, a mensagem do Apóstolo: Eis o tempo favorável para a conversão dos corações, eis os dias da salvação. 

Para edificar a paz, é preciso, antes de mais, eliminar as causas da discórdia que alimentam as guerras entre os homens, sobretudo as injustiças. Muitas delas provêm das excessivas desigualdades económicas e também da lentidão em lhes dar os remédios necessários. Outras, porém, nascem da ambição de domínio e do desprezo das pessoas; e se procuramos descobrir causas mais profundas, encontramos a inveja, a desconfiança, a soberba e outras paixões egoístas. 

Como o homem não pode suportar tantas desordens, a consequência de tudo isso é que o mundo, mesmo sem as atrocidades da guerra, vê-se continuamente envolvido em contendas e violências. Além disso, como estes mesmos males se verificam nas relações entre as diversas nações, é absolutamente necessário, para os vencer ou evitar e para conter as violências desenfreadas, que as instituições internacionais desenvolvam cada vez mais e melhor a sua cooperação e coordenação e que se estimule sem cessar a criação de organismos promotores da paz.


Da Constituição pastoral Gaudium et spes, do Concílio Vaticano II, sobre a Igreja no mundo contemporâneo (Nn. 82-83) (Sec. XX)

domingo, 30 de outubro de 2016

Santo Afonso Rodrigues


Afonso Rodrigues nasceu na Espanha, em 25 de julho de 1532. Pertencia à uma família pobre e profundamente cristã. Após viver uma sucessão de fatalidades pessoais, Afonso encontrou seu caminho na fé. A primeira provação foi a morte do pai. Diante da ausência paterna, Afonso assumiu os negócios da família. 

Com 23 anos Afonso casou-se e o seu matrimônio gerou dois filhos. Mas aí veio a segunda provação: sua esposa adoeceu gravemente e faleceu. Em seguida seus filhos também faleceram. A perda da família fez Afonso descuidar-se dos negócios. 

Afonso entrou então numa profunda crise espiritual. Retirado na própria casa, rezou e meditou muito e resolveu dedicar sua vida completamente à serviço de Deus servindo os semelhantes. Ingressou como irmão leigo na Companhia de Jesus em 1571 e um noviciado de sucesso, foi enviado para trabalhar no colégio de formação de padres jesuítas na ilha de Maiorca. 

No colégio exerceu somente a simples e humilde de porteiro, por quarenta e seis anos. Se materialmente não ocupava posição de destaque, espiritualmente era dos mais engrandecidos entre os irmãos. Recebera dons especiais e muitas manifestações místicas o cercavam, como visões, previsões, prodígios e cura. 


Ó Deus, concedei-nos, pelas preces de Santo Afonso Rodrigues, a quem destes perseverar na imitação de Cristo pobre e humilde, seguir a nossa vocação com fidelidade e chegar àquela perfeição que nos propusestes em vosso Filho. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém. 

A promoção da paz


A paz não é mera ausência de guerra, nem se reduz a um equilíbrio entre as forças adversárias nem se origina de um domínio tirânico, mas com toda a propriedade se chama obra da justiça (Is 32,17). É fruto da ordem, inserida na sociedade humana por seu divino fundador e a ser realizada de modo sempre mais perfeito pelos homens que têm sede de justiça. Em seus fundamentos o bem comum do gênero humano é regido pela lei eterna. Contudo, nas contingências concretas, está sujeito a incessantes mudanças com o decorrer dos tempos. Por isso a paz nunca é conquistada de uma vez para sempre; deve ser continuamente construída. Além disto, sendo a vontade humana volúvel e marcada pelo pecado, a busca da paz exige de cada um o constante domínio das paixões e a atenta vigilância da autoridade legítima.

Isto, porém, não basta. Aqui na terra não se pode obter a paz a não ser que seja salvaguardado o bem das pessoas e que os homens comuniquem entre si, com confiança e espontaneidade, suas riquezas de coração e de inteligência. Vontade firme de respeitar a dignidade dos outros homens e povos, ativa fraternidade na construção da paz, são coisas absolutamente necessárias. Deste modo a paz será também fruto do amor, que vai além do que a justiça é capaz de proporcionar. Pois a paz terena, oriunda do amor ao próximo, é figura e resultado da paz de Cristo, provinda de Deus Pai. Seu Filho encarnado, príncipe da paz, pela cruz reconciliou os homens com Deus. E recompondo a unidade de todos em um só povo e um só corpo, em sua carne destruiu o ódio (cf. Ef 2,16; Cl 1,20.22),  e exaltado pela ressurreição, infundiu nos corações o Espírito da caridade.

É a razão por que todos os cristãos são insistentemente chamados a que, vivendo a verdade na caridade (cf. Ef 4,15), se unam aos homens verdadeiramente pacíficos, a fim de implorar e estabelecer a paz. Movidos pelo mesmo espírito, queremos louvar calorosamente aqueles que renunciam à ação violenta para reivindicar seus direitos e recorrem aos meios de defesa, que de resto estão ao alcance dos mais fracos também, contanto que isto não venha lesar os direitos e deveres de outros ou da comunidade.


Da Constituição Pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo de hoje, do Concílio Vaticano II (N. 78) (Séc.XX)

sábado, 29 de outubro de 2016

São Geraldo


Hoje, o Martirológio Romano fixa a memória de são Geraldo, bispo de Potenza, na Lucânia. Ele era natural de Placência, e transferiu-se para Potenza. Foi escolhido como bispo por suas virtudes e suas atividades taumatúrgicas. Morreu apenas oito anos após sua escolha ao episcopado. Seu sucessor, Manfredo, escreveu-lhe uma vida exageradamente panegírica e sobretudo obteve uma canonização a viva voz (ou seja sem documentação escrita) por parte do papa Calisto II (1119-24). Mas existe outro Geraldo, também ele de Potenza, que teve uma fama bem superior ao bispo medieval. Trata-se de São Geraldo Majela, um dos santos mais populares da Itália meridional. E há motivo para esta popularidade: ele era invocado sobretudo pelas gestantes ou parturientes.

Nos inícios de 1800, cerca de cinquenta anos após a sua morte, um médico de Grassano (Matera) declarava: “Há muitos anos eu não exerço a profissão de médico. Exerce-a por mim o irmão Geraldo.” Este médico levava tanto a sério o patrocínio de são Geraldo, proclamado bem-aventurado só em 1893, que antes que remédios preferia dar as suas pacientes uma imagem do bom religioso. E Tannoia declarava: “O irmão Geraldo é o protetor especial dos partos. Em Foggia não há mulher parturiente que não tenha sua imagem e que não o invoque como protetor.” Singular revanche de santo pelos sofrimentos por que passou advindos de calúnias de uma mulher, uma ex-monja para a imprensa, o que foram mui facilmente aceitos pelos seus superiores.

Na realidade são Geraldo, que no leito de morte podia afirmar não saber nem o que fosse uma tentação impura, tinha sobre a mulher uma concepção superior: olhava toda mulher como uma imagem de Nossa Senhora, “louvor perene a SS. Trindade.” Eram os entusiasmos místicos de uma alma simples, mas cheia de amor espiritual. Exclamava frequentemente “Meu querido Deus, meu Espírito Santo,” sentindo íntimos a ele a bondade e o amor infinitos de Deus. Mais que um asceta, era um místico.

Sua vida está repleta de privações, de sofrimentos, de humilhações, mas tudo está profundamente animado, finalizado com um encontro vivo e pessoal com Deus. É isso que ficou dele, para além de algumas extravagâncias, que possam desconcertar ortodoxos. Há algo de autêntico e de genuíno também nos seus exageros que talvez os hipies de nossos dias os tornam novamente atuais. Mas São Geraldo fez uma contestação vinda de dentro.


Ó São Geraldo, nós nos alegramos pela felicidade de vossa glória. Nós bendizemos a Deus pelos dons sublimes de vossa graça a vós dispensados com tanta largueza. Nós vos felicitamos por haverdes correspondido fielmente a tanta bondade do Senhor.

Ó São Geraldo, ajudai-nos a imitar vossa fidelidade à Vontade divina: vosso amor a Jesus Sacramentado: vossa devoção singular a Maria Santíssima; vosso espírito de penitência; a pureza de vossa vida e, enfim, vossa grande caridade para com os pobres, para com as mães e para com os mais abandonados.

Ó São Geraldo, socorrei-nos em todas as nossas precisões espirituais e materiais. Alcançai-nos uma piedosa conformidade nas agruras, doenças e sofrimentos da vida. Abençoai as mães, de quem sois o especial padroeiro. Protegei nossa paróquia. Alcançai-nos de Deus muitas vocações sacerdotais e religiosas. Orai pela Igreja de Jesus Cristo e pelo Santo Padre, o Papa.

São Geraldo, nosso padroeiro, rogai por nós. Amém.

Como é bom e suave teu Espírito, Senhor, em todas as coisas!


Com a indizível benignidade de sua clemência, o Pai eterno dirigiu o olhar para esta alma, e começou a falar:

“Caríssima filha, determinei com firmeza usar de misericórdia para com o mundo e quero providenciar acerca de todas as situações dos homens. Mas o homem ignorante julga levar à morte aquilo que lhe concedo para a vida, e assim se torna muito cruel, para si próprio; no entanto, dele eu cuido sempre. Por isso quero que saibas: tudo quanto dou ao homem provém da suprema providência.

E o motivo está em que, tendo criado com providência, olhei em mim mesmo e fiquei cativo da beleza de minha criatura. Porque foi de meu agrado criá-la com grande providência à minha imagem e semelhança. Mais ainda, dei-lhe a memória para guardar meus benefícios em seu favor, por querer que participasse de meu poder de Pai eterno.

Dei-lhe, além disto, a inteligência para conhecer e compreender na sabedoria de meu Filho a minha vontade, porque sou com ardente caridade paterna o máximo doador de todas as graças. Concedi-lhe também a vontade de amar, participando da clemência do Espírito Santo, para poder amar aquilo que a inteligência vise e conhecesse.

Isto fez minha doce providência. Ser o único capaz de entender e de encontrar seu gozo em mim com alegria imensa na minha eterna visão. E como de outras vezes te falei, pela desobediência de vosso primeiro pai Adão, o céu estava fechado. Desta desobediência decorreram depois todos os males no mundo inteiro.

Para fazer desaparecer do homem a morte de sua desobediência, em minha clemência providenciei, entregando-vos meu Filho unigênito com grande sabedoria, para que assim reparasse vosso dano. Impus-lhe uma grande obediência, a fim de que o gênero humano se livrasse do veneno que se difundira no mundo pela desobediência de vosso primeiro pai. Assim, como que cativo de amor e com verdadeira obediência, correu com toda a rapidez, correu à ignominiosa morte sacratíssima, deu-vos a vida, não pelo vigor de sua humanidade, mas da divindade”.



Do Diálogo sobre a Providência divina, de Santa Catarina de Sena, virgem (Cap.134,ed. latina, Ingolstadi 1583, fº215v-216)        (Séc.XIV)

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

São Narciso


A tradição da Igreja conta-nos que São Narciso foi eleito bispo com quase cem anos de idade e administrou a diocese de Jerusalém até a idade de 116 anos. A lembrança que se guardou dele é a de um homem austero, penitente, humilde, simples e puro. 

Fez um trabalho tão admirável, amando os pobres e doentes. Presidiu o Concílio onde se decidiu que a Páscoa devia cair no domingo. Conta-se que foi também na véspera de uma festa de Páscoa, que Narciso transformou água em azeite para acender as lamparinas da igreja que estavam secas. 

Narciso foi caluniado, sob juramento, por três homens e embora perdoasse seus detratores, o inocente Bispo preferiu se retirar para o isolamento de um deserto. Segundo a história os caluniadores sofreram terríveis castigos. Depois de algum tempo Narciso reapareceu e foi aclamado novamente como bispo da cidade.


Onipotente e poderoso Senhor, que destes a São Narciso muita luz para guiar o rebanho de Cristo na cidade de Jerusalém, mandai o vosso Espírito Santo para nos guardar e mostrar os caminhos que levam a vós. E pela intercessão de são Narciso, concedei nos a graça que vos imploramos. Por Cristo Jesus, amém. 

Como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós


Nosso Senhor Jesus Cristo constituiu os guias e mestres do mundo e os dispensadores dos seus divinos mistérios e mandou-lhes também que brilhassem como lâmpadas e iluminassem não só o país dos judeus mas tudo o que está debaixo do sol, todos os homens do mundo e habitantes da terra. É pois verdadeiro quem diz: Ninguém tome para si esta honra, mas quem for chamado por Deus. Foi, de facto, Nosso Senhor Jesus Cristo que chamou a este excelso apostolado alguns dos seus discípulos, de preferência a todos os demais. 

Estes bem-aventurados discípulos foram colunas e fundamento da verdade. Deles diz o Senhor que os enviou como Ele próprio foi enviado pelo Pai. E ao mesmo tempo que mostra a dignidade do apostolado e a glória incomparável do poder que lhes confia, parece indicar também a função do ministério apostólico. 

Com efeito, se Ele pensava que devia mandar os seus discípulos da mesma forma que o Pai O tinha enviado, era necessário que, para O poderem imitar perfeitamente, eles compreendessem bem o mandato do Pai ao Filho. Por isso, ao explicar-nos de muitas maneiras o objectivo da sua missão, dizia: Não vim chamar os justos, mas os pecadores à penitência. E ainda: Desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade d’Aquele que Me enviou. Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo se salve por meio d’Ele. 

Definida assim em poucas palavras a missão dos Apóstolos, diz que os envia como Ele fora enviado pelo Pai, para que soubessem que o seu dever consistia em chamar os pecadores à conversão; em sarar os enfermos tanto do corpo como do espírito; em nunca procurar na administração dos bens de Deus a sua própria vontade, mas a d’Aquele por quem tinham sido enviados; e em salvar o mundo com a sua doutrina. 

Se ledes os Actos dos Apóstolos e os escritos de São Paulo, facilmente podeis saber com quanta diligência procuraram os santos Apóstolos pôr em prática estas normas de ação.


Do Comentário de São Cirilo de Alexandria, bispo, sobre o Evangelho de São João
(Lib. 12, 1: PG 74, 707-710) (Sec. V)

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

São Judas Tadeu, apóstolo


Judas, um dos doze, era chamado também Tadeu ou Lebeu, que São Jerônimo interpreta como homem de senso prudente. Judas Tadeu foi quem, na Última Ceia, perguntou ao Senhor: “Senhor, como é possível que tenhas de te manifestar a nós e não ao mundo?” (Jo 14,22).

Temos uma epístola de Judas “irmão de Tiago”, que foi classificada como uma das epístolas católicas. Parece ter em vista convertidos, e combate seitas corrompidas na doutrina e nos costumes. Começa com estas palavras: “Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, aos chamados e amados por Deus Pai, e conservados para Jesus Cristo: misericórdia, paz e amor vos sejam concedidos abundantemente”. Orígenes achava esta epístola “cheia de força e de graça do céu”.

Segundo São Jerônimo, Judas terá pregado em Osroene (região de Edessa), sendo rei Abgar. Terá evangelizado a Mesopotâmia, segundo Nicéforo Calisto. São Paulino de Nola tinha-o como apóstolo da Líbia. Conta-se que Nosso Senhor, em revelações particulares, teria declarado que atenderá os pedidos daqueles que, nas suas maiores aflições, recorrerem a São Judas Tadeu. Santa Brígida refere que Jesus lhe disse que recorresse a este apóstolo, pois ele lhe valeria nas suas necessidades. Tantos e tão extraordinários são os favores que São Judas Tadeu concede aos seus devotos, que se tornou conhecido em todo o mundo com o título de Patrono dos aflitos e Padroeiro das causas desesperadas.

O apóstolo Judas Tadeu se tornou um mártir da fé. Os sacerdotes pagãos furiosos mandaram assassinar o apóstolo, a golpes de bastões, lanças e machados. Tudo teria acontecido no dia 28 de outubro de 70. Sua imagem traz até hoje a palavra de Deus e um machado, símbolo de seu martírio. 


Senhor Jesus, Tu escolheste S. Judas entre os teus Apóstolos e fizeste dele, para o nosso tempo, o Apóstolo das causas desesperadas. Agradeço-Te por todos os benefícios que me concedeste por sua intercessão e peço-Te que me concedas a Tua graça nesta vida para que possa participar um dia, na Tua glória, na alegria eterna. Amém.

São Judas Tadeu, rogai por nós!

São Simão, apóstolo


Simão também chamado zelota e Cananeu é, talvez, o mais desconhecido dos apóstolos. Aliás, mesmo na Bíblia, recebeu apelidos para ser diferenciado de Simão Pedro. Ele é chamado de Simão, "o cananeu", pelos apóstolos Mateus e Marcos. Alguns estudiosos cristãos entendem que este "cananeu" pode ser uma referência a Canaã, a terra de Israel.

Mas quando Lucas, no seu Evangelho, o chama de "o zelote", parece querer indicar que Simão pertencera ao partido judeu radical que tinha o mesmo nome. Os radicais zelotes pregavam a luta armada contra os dominadores.

Sabe-se que Simão, como todos os outros apóstolos dos primeiros tempos do cristianismo, depois do Pentecostes percorreu caminhos pregando o Evangelho sem nada levar consigo. Operou muitos milagres, curou enfermos, leprosos e expulsou espíritos maus.

Outros relatos falam da pregação de Simão também no Egito, Líbia e Mauritânia. Segundo Eusébio, idôneo e célebre historiador, Simão teria sido o sucessor de Tiago na cátedra de Jerusalém, nos anos da trágica destruição da cidade santa.

Uma antiga tradição diz que Simão encontrou-se com o apostolo Judas Tadeu na Pérsia e, desde então, viajaram juntos. Percorreram as doze províncias do Império Persa, deixando o conhecimento histórico e religioso como foi encontrado num antigo livro da época chamado "Atos de Simão e Judas", de autor desconhecido. Nele consta que, no dia 28 de outubro do ano 70, houve o assassinato do apóstolo, preocupados com a eloqüência das pregações que convertiam multidões inteiras. Era apresentado com Nosso Senhor e foi crucificado pelos judeus.

O apóstolo é representado tendo em sua mão direita o livro aberto, que simboliza a evangelização dinâmica. O livro aberto significa que a Palavra de Deus é sempre atual. 


Deus de infinita misericórdia, que nos fizestes chegar ao conhecimento do vosso nome por meio dos bem-aventurados Apóstolos, concedei-nos, por intercessão de São Simão, que a vossa Igreja cresça continuamente com a conversão dos povos ao Evangelho. Por Nosso Senhor.

Nas coisas criadas está impressa a imagem da Sabedoria


Em nós e em todas as coisas está impressa a imagem criada da Sabedoria eterna. Por isso, não sem razão a verdadeira e operante Sabedoria, contemplando nas criaturas a imagem da sua própria natureza, diz: O Senhor Me criou nas suas obras. Deste modo, o Senhor considera toda a sabedoria que há e se manifesta em nós como participação de Si mesmo. 

O Senhor afirma isto de Si mesmo, não porque o Criador seja criado, mas por causa da sua imagem que criou e imprimiu nas criaturas. Assim como o Senhor diz: Quem vos recebe a Mim recebe, porque está impressa em nós a sua imagem, assim também, embora Ele não se possa contar entre as coisas criadas, criou nas suas obras a imagem e semelhança de Si mesmo, e por isso afirma, como se falasse de Si próprio: Deus criou-Me como primícias das suas obras. 

Ora a razão por que nas coisas criadas está impressa a imagem da Sabedoria é para que o mundo reconheça por meio dela o Verbo, seu criador, e por meio do Verbo conheça o Pai. É isto o que ensina Paulo: O que se pode conhecer de Deus é-lhes claramente manifestado; com efeito, Deus lho deu claramente a conhecer. As suas perfeições invisíveis tornaram-se, desde a criação do mundo, visíveis à inteligência por meio das suas obras. Portanto, aquele texto dos Provérbios não se refere ao Verbo, como se fosse criado, mas à sabedoria que se diz estar e está verdadeiramente em nós. 

Mas os que não têm esta fé devem responder-nos a uma pergunta: Existe ou não existe nas coisas criadas alguma forma de sabedoria? Se não existe, porque é que o Apóstolo se lamenta dizendo: Na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus por meio da sabedoria? Se não existe sabedoria alguma, porque é que a Escritura menciona tantos sábios? De facto está escrito: O sábio teme e afasta-se do mal e com sabedoria edifica a sua casa. 

Também o Eclesiastes diz: A sabedoria do homem faz resplandecer o seu rosto; e repreende os temerários com estas palavras: Não digas: Porque é que o tempo passado foi melhor que o presente? Semelhante pergunta não é inspirada pela sabedoria. 

Efetivamente nas coisas criadas existe a sabedoria, como declara o filho de Sirac com estas palavras: Ele derramou-a sobre todas as suas obras, sobre todos os seres vivos, e comunicou-a generosamente àqueles que O amam. O que é dado, porém, não é a natureza da Sabedoria, que é em Si mesma indivisível e unigénita, mas só a sua imagem impressa na criação. Sendo assim, porque há-de parecer impossível que a mesma Sabedoria criadora, cuja forma ou imagem se reflectem na sabedoria e na ciência espalhadas pelo mundo, diga em certo modo de Si mesma: O Senhor Me criou nas suas obras? Certamente a sabedoria que existe no mundo não é criadora, mas foi criada nas obras; e por ela os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.


Dos Sermões de Santo Atanásio, bispo, «Contra os arianos»
(Oratio 2, 78, 79: PG 26, 311, 314) (Sec. IV)

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

São Frumêncio


Frumêncio foi o primeiro bispo missionário da Etiópia. Era o tempo do imperador Constantino, por volta do século IV. Durante uma viagem, voltando das Índias, Frumêncio e alguns amigos foram atacados por ladrões etíopes que saquearam o barco e mataram os passageiros e tripulantes. O jovem Frumêncio sobreviveu e foi levado para a Etiópia e entregue ao rei, como escravo. 

O rei Etíope admirou-se da sabedoria de Frumêncio e o manteve como secretário. Sua influência cresceu na corte, principalmente junto à rainha. Ao se tornar viúva ela assumiu o poder para o filho menor, como regente. Tempos depois, eles conseguiram da rainha autorização para construir uma igreja próxima ao porto, para servir os mercadores cristãos que passavam pelo país. Este lugar foi a semente do cristianismo no continente africano. 

Quando o filho do rei tornou-se independente, Frumêncio pode retornar para casa. Resolveu então procurar Santo Atanásio, pedindo que designasse um Bispo e missionários para comandar a pregação católica na Etiópia. Atanásio não se fez de rogado, entendendo que o mais indicado era o próprio Frumêncio, o consagrou Bispo da Etiópia. 

Quando retornou, Frumêncio encontrou no trono da Etiópia o jovem rei seu pupilo que lhe dedicava grande estima. Logo em seguida ele se converteu e foi batizado e convidou todo seu povo a acompanhá-lo no seguimento de Cristo. 

Frumêncio, chamado pelos etíopes de "Abba Salama", ou seja "Padre da Paz" desenvolveu seu trabalho missionário na Etiópia até morrer no ano 380. 


Deus de amor, pela intercessão de São Frumêncio, concedei-nos ardoroso espírito missionário, para que possamos enfrentar os obstáculos que possam aparecer no decorrer de nosso apostolado. Por Cristo nosso Senhor. Amém. 

Sigamos o caminho da verdade


Revistamo-nos de concórdia, humildade e castidade; afastemo-nos de toda a murmuração e maledicência e sejamos justos não com palavras mas com obras. Está escrito: Quem fala muito deverá também ouvir; ou julga o homem que é justo pela sua loquacidade? 

É necessário estarmos sempre dispostos a fazer o bem, pois tudo nos é dado por Deus. Ele nos previne dizendo: Eis que vem o Senhor e traz consigo a recompensa, para dar a cada um segundo as suas obras. Com estas palavras Ele exorta-nos a acreditarmos n’Ele de todo o coração, a não sermos preguiçosos mas diligentes em fazer o bem. Esteja sempre n’Ele a nossa glória e a nossa confiança; submetamo-nos à sua vontade e pensemos na grande multidão de Anjos que estão na sua presença, sempre prontos a cumprir a sua vontade. Diz a Escritura: Miríades e miríades de Anjos estavam na sua presença, milhares e milhares O serviam, e cantavam: Santo, Santo, Santo é o Senhor do Universo; toda a criação está cheia da sua glória. 

Reunamo-nos também nós no mesmo lugar, em perfeita concórdia de consciência, e aclamemo-l’O sem cessar numa só voz, a fim de participarmos nas suas grandes e gloriosas promessas. Diz também a Escritura: Nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam. 

Como são agradáveis, como são maravilhosos, irmãos caríssimos, os dons de Deus! A vida na imortalidade, o esplendor na justiça, a verdade na liberdade, a fé na confiança, a temperança na santidade: todas estas coisas se tornam acessíveis à nossa inteligência. Quais são então os bens preparados para aqueles que O esperam? Só o Santíssimo, o Criador e Pai dos séculos, conhece o seu número e beleza. 

Esforcemo-nos por ser contados entre o número daqueles que O esperam, para merecermos tomar parte nos dons prometidos. E como poderemos consegui-lo, amados irmãos? unindo pela fé a nossa alma a Deus, procurando com diligência o que é agradável e aceite a seus olhos, realizando o que está de acordo com a sua santa vontade, seguindo o caminho da verdade e rejeitando toda a forma de injustiça.


Da Carta de São Clemente I, papa, aos Coríntios
(Cap. 30, 3-4; 34, 2 – 35, 5: Funk 1, 99, 103-105) (Sec. I)

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Santo Evaristo


No atual Anuário dos Papas encontramos Evaristo em pleno comando da Igreja católica, como quarto sucessor de Pedro, no ano 97. Era o início da era cristã e poucos são os registros sobre ele. Somente encontramos algumas indicações sobre sua vida nas obras de Irineu e Eusébio, escritores dos inícios do cristianismo. 

Evaristo era grego e foi formado na Antioquia. Em Roma ocupou o cargo de papa como sucessor de Clemente. Ele governou a Igreja durante nove anos, nos quais incentivou o crescimento das lideranças nas comunidades, ordenando pessoalmente muitos padres, bispos e diáconos. 

Atribui-se a Evaristo a divisão de Roma em “títulos” ou paróquias com um padre encarregado delas. Esses títulos são o embrião dos futuros títulos dos cardeais-presbíteros ou padres. Também teria ordenado que os bispos pregassem sempre na presença de diáconos, náo só pela solenidade, mas para ter quem pudesse atestar sobre o que o bispo tinha pregado. 

Papa Evaristo morreu em 107. Uma tradição muito antiga afirma que ele teria sido mártir da fé durante a perseguição imposta pelo imperador Adriano, e que depois seu corpo teria sido abandonado perto do túmulo do apóstolo Pedro. 


Ó Deus, que concedestes ao Papa Santo Evaristo a graça do Magistério Romano, permiti que, pela sua intercessão, sejamos sempre fiéis ao papa e aos Bispos a ele unidos. Por Cristo, nosso Senhor. Amém. 

Deus é fiel às suas promessas


Consideremos, amados irmãos, como o Senhor nos manifesta continuamente a verdade da nossa futura ressur reição, cujas primícias realizou em Nosso Senhor Jesus Cristo, ressuscitando-O de entre os mortos. Pensemos, amados irmãos, na ressurreição que nos mostra a lei do tempo. O dia e a noite falam-nos da ressurreição. Vai-se a noite e desponta o dia; morre o dia e vem a noite. Tomemos como exemplo os frutos da terra. Como se faz a sementeira e como germina a semente? Sai o semeador e lança a semente à terra. Os grãos da semente, secos e nus, caem na terra e desagregam-se; mas a maravilhosa providênciado Senhor fá-los ressuscitar desta mesma desagregação, e de um só grão nascem muitos, que crescem e dão fruto.

Com esta esperança, unam-se as nossas almas Àquele que é fiel às suas promessas e justo em seus juízos. Quem nos proíbe mentir, certamente não mentirá. Nada é impossível a Deus, excepto a mentira. Reavive-se, portanto, a nossa fé n’Ele e acreditemos que tudo Lhe é possível.

Com uma palavra da sua majestade criou o universo e também com uma palavra pode reduzi-lo a nada. Quem ousaria perguntar‑Lhe: Que fizestes? Ou quem poderia opor‑se ao seu poder? Ele faz todas as coisas quando quer e como quer, e nada do que Ele decretou ficará por cumprir. Tudo está na sua presença e nada se opõe à sua vontade; porque os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos; um dia transmite ao outro esta mensagem e a noite a dá a conhecer à outra noite; não são palavras nem linguagem cujo sentido se não perceba.

Se Ele tudo vê e tudo ouve, vivamos em santo temor e afastemo-nos de todo o desejo impuro das obras más, a fim de que a sua misericórdia nos defenda no dia do juízo que há-de vir. Para onde poderíamos fugir da sua mão omnipotente? Que mundo poderia acolher um desertor de Deus? Diz algures a Sagrada Escritura: Para onde irei? Onde poderei evitar a vossa presença? Se subir ao céu, Vós lá estais; se voar para as extremidades da terra, ali está a vossa direita; se descer aos abismos, aí encontrarei o vosso espírito. Em que lugar, portanto, poderia alguém refugiar-se para escapar Àquele que tudo abrange?

Aproximemo-nos de Deus com a alma santificada, erguendo para Ele as nossas mãos puras e sem mancha; amemos o nosso Pai benigno e misericordioso, que nos escolheu para sermos a sua herança.


Da Carta de São Clemente I, papa, aos Coríntios
(Cap. 24, 1-5; 27, 1 – 29, 1: Funk 1, 93-97) (Sec. I)

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Santo Antônio de Sant'Anna Galvão


O brasileiro Antonio de Sant'Anna Galvão, nasceu em 1739, em Guaratinguetá, São Paulo. Quando tinha treze anos, Antônio foi enviado para estudar com os jesuítas. Desse modo, na sua vida estava plantada a semente da vocação religiosa. Aos vinte e um anos, Antônio deixa os jesuítas e ingressa na Ordem Franciscana, no Rio de Janeiro. 

Em 1768 foi nomeado pregador e confessor do convento das Recolhidas de Santa Teresa. Entre suas penitentes encontrou a Irmã Helena Maria do Sacramento, que tinha visões sobre a fundação de um novo convento. Apesar das dificuldades, frei Galvão e Irmã Helena fundaram, em fevereiro de 1774, o Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência. 

Entre dificuldades e perseguições, frei Galvão conseguiu manter e ampliar este convento, construindo inclusive uma igreja anexa ao prédio. Hoje o convento, em São Paulo, é patrimônio cultural da humanidade. Em 1811, a pedido do Bispo de São Paulo, fundou o Recolhimento de Santa Clara em Sorocaba. 

Com a saúde enfraquecida recebeu autorização especial para residir no Recolhimento da Providência. Durante sua última enfermidade, Frei Galvão foi morar num pequeno quarto, ajudado pelas religiosas que lhe prestavam algum alívio e conforto. Ele faleceu com fama de santidade aos 23 de dezembro de 1822. 

Frei Galvão foi chamado "Bandeirante de Cristo", porque tinha na alma a grandeza, o arrojo e fortaleza de um verdadeiro bandeirante. Renunciou a uma brilhante situação no mundo para servir a Jesus Cristo. Cheio do espírito de caridade, não media sacrifícios para aliviar os sofrimentos alheios. Foi considerado santo mesmo já antes de sua morte. 


Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu Vos adoro, louvo e Vos dou graças pelos benefícios que me fizestes. Peço-Vos, por tudo que fez e sofreu o Vosso servo Frei Antônio de Sant'Anna Galvão, que aumenteis em mim a fé, a esperança e a caridade, e Vos digneis conceder-me a graça que ardentemente almejo. Amém. 

Não queiramos fugir da vontade de Deus


Sede vigilantes, irmãos caríssimos, para que os inumeráveis benefícios de Deus não se transformem em condenação para todos nós, se não vivermos de maneira digna d’Ele, isto é, se não realizarmos em mútua concórdia o que é bom e agradável a seus olhos. Ele diz, com efeito, em certo lugar: O Espírito do Senhor é como uma lâmpada que perscruta os mais íntimos segredos do coração.

Consideremos como está perto de nós e recordemos que não Lhe são ocultos os nossos pensamentos e deliberações interiores. É necessário, portanto, que não abandonemos o nosso posto contra a sua vontade. Mais vale desagradar aos homens néscios e insensatos, orgulhosos e presumidos na arrogância das suas palavras, do que ofender a Deus.

Veneremos o Senhor Jesus que derramou por nós o seu Sangue, respeitemos os nossos chefes, honremos os anciãos, formemos os jovens na ciência do temor de Deus, orientemos as esposas no verdadeiro caminho do bem. Sejam dignas de todo o louvor pelo encanto da castidade, dêem provas da sua bondade sincera, manifestem no silêncio a discrição da sua língua; exercitem a caridade sem acepção de pessoas, mas imparcial e santamente, para com todos os que temem a Deus.

Sejam os vossos filhos educados na doutrina de Cristo; aprendam o grande valor que tem diante de Deus a humildade, como é apreciável a seus olhos o amor casto, como é bom e eficaz o temor de Deus que salva todos os que o guardam santamente num coração puro. Porque Deus perscruta os nossos pensamentos e as nossas intenções; o seu Espírito está em nós, mas pode privar-nos d’Ele quando quiser.

Todas estas coisas são confirmadas pela nossa fé em Cristo. É Cristo que nos convida, por meio do seu Espírito, com estas palavras: Vinde, filhos, escutai‑me; ensinar‑vos‑ei o temor do Senhor. Qual é o homem que ama a vida e deseja longos dias de felicidade? Guarda do mal a tua língua e da mentira os teus lábios. Evita o mal e faz o bem; procura a paz e segue-a.

Misericordioso em tudo e rico de benevolência, o Pai abre o seu coração para aqueles que O temem, e com bondade e doçura distribui as suas graças aos que d’Ele se aproximam com simplicidade. Por isso, afastemos de nós toda a duplicidade de espírito e não se orgulhe a nossa alma pelos seus dons incomparáveis e gloriosos.


Da Carta de São Clemente I, papa, aos Coríntios
(Cap. 21, 1 – 22, 5; 23, 1-2: Funk 1, 89-93) (Sec. I)

domingo, 23 de outubro de 2016

Santo Antônio Maria Claret


Antônio nasceu em 23 de dezembro de 1807, em Barcelona, na Espanha. Na família aprendeu o caminho do seguimento de Cristo, a devoção à Maria e o profundo amor à Eucaristia. Na adolescência ouviu o chamado para servir à Deus. Assim, acrescentou o nome de "Maria" ao seu, para dar testemunho de que a ela dedicaria sua vida de religioso. 

Em 1835 recebeu a ordenação sacerdotal. Trabalhou como pároco e depois, recorrendo a Roma, passou a ser missionário itinerante pela Espanha. Em 1948 foi enviado para evangelizar as ilhas Canárias. 

Em 1849 na companhia de outros cinco jovens sacerdotes, fundou a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, ou Padres Claretianos. Nesse mesmo ano, o fundador foi nomeado arcebispo de Cuba. Neste país sofreu hostilidade dos grupos maçonicos. 

Mas Monsenhor Claret continuou seu trabalho. Restaurou o antigo seminário cubano, deu apoio aos negros e índios escravos. Quando voltou à Madri em 1857, para ser confessor da rainha Isabel II, deixou a Igreja de Cuba mais unida, mais forte e resistente. 

Morreu com sessenta e três anos no dia 24 de outubro de 1870, na França. 


Deus, nosso Pai, Santo Antônio Maria Claret foi inflamado pelo fogo do vosso Espírito Santo. À todos procurou levar a mensagem do Reino segundo as exigências de seu tempo. Senhor, saibamos nós também responder aos desafios de nosso tempo, extraindo do Evangelho a inspiração para o nosso agir e pensar. Por Cristo nosso Senhor. Amém. 

Benfazejo em tudo, Deus dispôs o mundo com justeza e harmonia


Consideremos com amor o Pai e Criador do mundo inteiro e unamo-nos com firmeza a seus magníficos e desmedidos dons da paz e aos benefícios. Pelo pensamento contemplemo-lo e demoremos o olhar do espírito em sua vontade generosa. Vejamos quão clemente se mostra para com toda criatura sua.

Os céus movidos por seu governo, se lhe submetem em paz; o dia e a noite, sem se embaraçarem mutuamente, realizam o curso que lhes determinou. O sol, a luz e todo o coro dos astros, em conformidade com sua ordem, desenvolvem, sem se enganar e em concórdia, a disposição para eles fixada. De acordo com a sua vontade, em tempo oportuno, a terra fecunda produz abundante alimento para os homens, as feras e todos os animais que nela existem, sem hesitação, sem alterar nada do que lhe foi ordenado.

Os inescrutáveis abismos, as regiões inacessíveis do oceano mantêm-se dentro de suas leis. A grandeza do mar imenso, reunida em ondas por sua determinação, não ultrapassa os limites postos a seu redor, mas como lhe ordenou, assim faz. Pois disse: Até aqui virás, e em ti mesmo se quebrarão tuas vagas (Jó 38,11). O oceano intransponível aos homens e os mundos que existem para além dele são governados pelos mesmos decretos do Senhor.

As estações da primavera, verão, outono e inverno se sucedem em paz umas às outras. Os guardas dos ventos no tempo marcado executam seu encargo sem obstáculo; também as fontes perenes, criadas para o uso e a saúde, oferecem sem falhas sua abundância para o sustento da vida humana; e os animais pequeninos, em paz e concórdia, fazem seus agrupamentos.

O grande artífice e Senhor de tudo ordenou que estes seres todos se fizessem em paz e concórdia, beneficiando a tudo, porém, com superabundância, a nós, que nos refugiamos em sua misericórdia por nosso Senhor Jesus Cristo, a quem a glória e a majestade pelos séculos dos séculos. Amém.


Da Carta aos coríntios, de São Clemente I, papa 
(Cap.19,2-20,12: Funk 1,87-89)
(Séc.I)

sábado, 22 de outubro de 2016

São João de Capistrano


João nasceu no dia 24 de junho de 1386, na cidade de Capistrano, no então reino de Nápoles. Era filho de um conde alemão e uma jovem italiana. Estudou direito civil e canônico, formando-se com honra ao mérito. Ainda jovem casou-se com um nobre dama da sociedade. 

Numa crise política no Reino de Nápoles, João foi cogitado para auxiliar nas negociações. Entretanto houve confusões e o jovem acabou preso. Para piorar a situação ele recebeu a notícia da morte de sua esposa. 

Foi então um momento de mudança radical de vida. Abriu mão de todos os cargos, vendeu todos os bens e propriedades, pagou o resgate de sua liberdade e pediu ingresso num convento franciscano. Mas antes de vestir o hábito precisou enfrentar as humilhações do superior da comunidade. 

Durante trinta anos fez rigoroso jejum, duras penitências e se dedicou às orações. Trabalhou com energia, evangelizando na Itália, França, Alemanha, Áustria, Hungria, Polônia e Rússia. Tornou-se grande pregador e missionário. Foi conselheiro de quatro Papas. 

João de Capistrano contava com setenta anos de idade, quando um enorme exército muçulmano ameaçava tomar a Europa. O Papa Calisto III o designou como pregador de uma cruzada, que defenderia o continente. Durante onze dias e onze noites João esteve entre os soldado, animando-os para a resistência. Finalmente os cristãos conseguiram vencer os invasores. 

Morreu no dia 23 de outubro de 1456. João de Capistrano é o padroeiro dos juízes. 

Por causa de suas andanças pela Europa, João mereceu ser chamado o apóstolo da Europa. Espírito inquebrantável, organizou a ordem franciscana, foi conselheiro de papas e em suas viagens apostólicas, procurou fortalecer a moral cristã e refutar os erros dos heréticos. Deixou uma obra escrita em dezessete volumes e foi um homem que participou ativamente da angústia de seu tempo, em tudo reconhecendo a ação de Deus. 


Deus, nosso Pai, a exemplo de São João Capistrano, faça de nós o sal da terra, mediante uma vida honrada e íntegra, trabalhando com ardor para construção da paz e da comunhão. Dai-nos também ser luz para este mundo carente de valores espirituais, fazendo o bem sem olhar à quem. Por Cristo nosso Senhor. Amém. 

O Verbo, Sabedoria de Deus, fez-Se homem


Ensina-nos o santo Apóstolo que dois homens deram princípio ao gênero humano: Adão e Cristo. Dois homens, semelhantes no corpo, mas diferentes no mérito; totalmente iguais na configuração dos membros, mas totalmente diversos na origem. Diz o Apóstolo: O primeiro homem, Adão, foi criado como um ser vivo; o último Adão tornou-Se um espírito que dá vida.

O primeiro Adão foi criado pelo segundo, de quem recebeu a alma para poder viver; o último Adão formou-Se por Si mesmo, nem podia esperar a vida da parte de outrem, porque d’Ele procede a vida de todos. Aquele foi modelado no barro desprezível; Este formou-Se nas entranhas preciosíssimas da Virgem. Naquele, a terra é transformada em carne; n’Este, a carne é elevada à condição divina.

Que mais? Este é o segundo Adão que, ao formar o primeiro, imprimiu nele a sua própria imagem. E por isso veio a assumir a sua natureza e o seu nome, para que não se perdesse aquele que tinha feito à sua imagem. Temos, portanto, o primeiro e o último Adão. O primeiro teve princípio; o último não tem fim. Por isso, este último é verdadeiramente o primeiro, como Ele mesmo diz: Eu sou o Primeiro e o Último.

Eu sou o Primeiro, isto é, sem princípio. Eu sou o Último, isto é, sem fim. Contudo, o que veio primeiro não foi o espiritual, mas o natural; depois é que veio o espiritual. Sem dúvida, a terra vem antes do fruto; mas a terra não é tão preciosa como o fruto. Aquela exige fadigas e suores; este dá alimento e vida. Com razão se gloria o profeta de tal fruto, dizendo: A nossa terra produziu o seu fruto. Que fruto? Aquele de que fala noutro lugar: Colocarei no teu trono um descendente da tua família. E o Apóstolo diz também: O primeiro homem é terreno porque veio da terra; o segundo homem é celeste porque desceu do Céu.  

Tal como foi o homem terreno, assim são também os homens terrenos; e tal como é o homem celeste, assim serão também os homens celestes. Como é que aqueles que não nasceram do Céu poderão ser celestes, não ficando como nasceram mas adquirindo um novo nascimento? Isto deve-se, irmãos, à acção do Espírito, que fecunda com a sua luz divina o seio materno da fonte virginal, para que aqueles que a origem terrestre trouxe ao mundo na miserável condição terrena, renasçam na condição celeste e sejam elevados à semelhança do seu divino Criador. Portanto, renascidos e renovados à imagem do Criador, ponhamos em prática o que nos diz o Apóstolo: Assim como trouxemos em nós a imagem do homem terreno, procuremos também trazer em nós a imagem do homem celeste.

Renascidos já, como dissemos, à imagem de Nosso Senhor, adotados como verdadeiros filhos de Deus, esforcemo-nos por levar sempre em nós a imagem fiel do nosso Criador, não na majestade que só a Ele pertence, mas na inocência, simplicidade, mansidão, paciência, humildade, misericórdia, paz e concórdia, com que Ele Se dignou tornar-Se um de nós e ser semelhante a nós.


Dos Sermões de São Pedro Crisólogo, bispo
(Sermo 117: PL 52, 520-521) (Sec. V)

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

São João Paulo II


João Paulo II nasceu no dia 18 de maio de 1920 na cidade de Wadovice na Polônia sob o nome de Karol Wojtyla. Sua história está totalmente ligada a história do seu país, oprimido até a 1ª Guerra Mundial e em sua grande maioria católico. A Polônia era praticamente uma vitoriosa em meio a tantos países vizinhos protestantes e ortodoxos. Ali, ser católico era motivo de orgulho a pátria e o nosso papa João Paulo II, desde criança, foi um católico fervoroso e muito nacionalista.

Tinha o sonho de ser ator e aos 19 anos seu maior sonho era ajudar a Polônia a vencer a guerra e queria fazer isso através do teatro, utilizando-o como "arma" para "ganhar espíritos". A Polônia tinha sido invadida por Hitler e os nazistas haviam proibido qualquer tipo de missa ou seminário mas em 1942, com 22 anos, entrou para o seminário “clandestinamente” e surpreendeu a todos quando anunciou que queria ser padre. A intenção continuava a mesma, mas agora tinha o propósito da Igreja Católica por trás de dela.

João Paulo II manteve-se firme e tranquilo durante todo o processo principalmente contra os comunistas que eram contra o catolicismo e com seu carisma e diplomacia conseguiu subir rapidamente na hierarquia da Igreja Católica. No dia 1º de novembro de 1946 aconteceu a sua ordenação sacerdotal na Cracóvia e em 1948 após a sua gradução como doutor, voltou a Polônia onde foi vigário e capelão dos Universitários.

Em 1960, a Igreja Católica na Polônia vivia o momento oposto da Igreja Católica no Ocidente. Enquanto uma era muito respeitada e admirada a outra ia de mal a pior. Por conta disso, em 1962 o Papa João XXIII convocou o “Concílio do Vaticano” com o intuito de de modernizar o catolicismo e reverter a atual situação que a Igreja se encontrava.

João Paulo II, recém promovido a bispo, foi um dos convidados do Concílio e sua participação foi muito firme e discreta, fato que despertou o interesse do Papa VI (sucessor de João XXIII) em querer escutar mais as suas propostas e ideias. Karol foi responsável por influenciar muitas realizações na Igreja até a morte do Papa VI e a fatídica morte do Papa João Paulo I (seu sucessor) que morreu após 33 dias no cargo. Diante dessa situação, houve uma votação e com 99 votos de 108 era eleito como novo papa, Karol Wojtyla, que escolheu o nome de João Paulo II em homenagem aos seus 3 antecessores.

Na missa inaugural, João Paulo II declarou publicamente a sua vontade de estar com os poloneses. Nunca um Papa tinha entrado em um bloco comunista, mas sob ameaça de revolta, o dirigente na época foi obrigado a ceder e proporcionar ao povo uma visita de 8 dias a sua terra Natal sendo recebido pelo grito “queremos Deus”.

Em 1981, sofreu um atentado onde levou dois tiros e por pouco não morreu. Até hoje não se sabe quem foram os responsáveis, mas desconfia-se da participação de algum governo comunista. Mesmo depois disso, o Papa seguiu firme nos seus propósitos e continuou criticando os comunistas e usava suas armas mais fortes: diplomacia agressiva, espionagem e encontros secretos. Prova de seu carisma e popularidade foi o encontro de diversos líderes religiosos em 1986 onde a seu pedido houve uma trégua mundial que foi respeitada em várias nações em guerra. Inclusive, foi um dos grandes responsáveis pela queda do comunismo.

Em 1991, lutou contra a queda dos costumes da Igreja e também contra os escândalos de pedofilia na igreja americana além de lutar também dentro da própria Igreja onde acusou muitos dérigos e teólogos que defendiam casamento de padres, ordenação de mulheres e outras teses polêmicas.

No final de seu pontificado, já estava com a saúde bem debilitada e sofrendo do mal de Parkinson e com dificuldades para falar, respirar e andar teve que parar com as viagens que lhe renderam o carinhoso título de “grande missionário” e também com as aparições em público.

A trajetória do Papa João Paulo II até o pontificado é cheia de fé, coragem e determinação e não podemos deixar de exaltar esses elementos como fatores essenciais para a sua canonização e popularidade até nos dias de hoje.

Em 27 de abril de 2014, numa cerimônia inédita presidida pelo Papa Francisco, e com a presença do Papa Emérito Bento XVI, foi declarado Santo juntamente com o Papa João XXIII; sua festa litúrgica celebra-se no dia 22 de outubro.


Ó São João Paulo, da janela do céu, dá-nos a tua bênção!

Abençoa a Igreja, que tu amaste, serviste e guiaste, incentivando-a a caminhar corajosamente pelos caminhos do mundo, para levar Jesus a todos e todos a Jesus!

Abençoa os jovens, que também foram tua grande paixão. Ajuda-os a voltar a sonhar, voltar a dirigir o olhar ao alto para encontrar a luz que ilumina os caminhos da vida na terra.

Abençoa as famílias, abençoa cada família!

Tu percebeste a ação de Satanás contra esta preciosa e indispensável faísca do céu que Deus acendeu sobre a terra.

São João Paulo, com a tua intercessão, protege as famílias e cada vida que nasce dentro da família.

Roga pelo mundo inteiro, ainda marcado por tensões, guerras e injustiças.
Tu te opuseste à guerra, invocando o diálogo e semeando o amor;
roga por nós, para que sejamos incansáveis semeadores de paz.

Ó São João Paulo, da janela do céu, onde te vemos junto a Maria, faz descer sobre todos nós a bênção de Deus!

Amém.