Cristo apascenta-te com justiça; Ele distingue as suas ovelhas das que não são suas. Diz o Senhor: As minhas ovelhas ouvem a minha voz e seguem-Me.
Aqui vejo todos os bons pastores identificados com o único Pastor. Não faltam bons pastores, mas estão num só. Se não estivessem num só, estariam divididos. Mas aqui fala-se de um só, porque se recomenda a unidade. Se não se fala de diversos pastores mas de um só Pastor, não é porque o Senhor não tenha encontrado ninguém a quem confiar as suas ovelhas, pois quando encontrou Pedro confiou-as ao seu cuidado. Mas na própria pessoa de Pedro Ele recomendou a unidade. Eram muitos os Apóstolos, mas a um só foi dito: Apascenta as minhas ovelhas. Não queira Deus que nos faltem agora bons pastores, não permita Deus que venham a faltar-nos; a sua misericórdia os faça germinar e os consagre para que apascentem o seu rebanho.
Sem dúvida que, se há boas ovelhas, há também bons pastores, porque é das boas ovelhas que se formam os bons pastores. Mas todos os bons pastores estão num só, são um só. Quando eles apascentam, é Cristo que apascenta. Os amigos do Esposo não querem fazer ouvir a sua própria voz, mas exultam de alegria quando se ouve a voz do Esposo. Por isso, quando eles apascentam, é o Senhor que apascenta, aquele Senhor que pode dizer com toda a razão: «Sou Eu que apascento», porque na voz e na caridade dos pastores está a voz e a caridade do Senhor. Quando confiou as suas ovelhas a Pedro, como quem as entrega a outra pessoa diferente de Si mesmo, quis fazer dele uma só coisa consigo. Cristo, a cabeça, confiou as ovelhas a Pedro como símbolo do seu corpo que é a Igreja; e deste modo, como o Esposo e a Esposa, eram dois que se identificavam num só.
Por isso, ao confiar-lhe as suas ovelhas, para não ‘parecer que as entregava a um pastor distinto de Si mesmo, o Senhor perguntou-lhe: Pedro, amas-Me? Ele respondeu-Lhe: Sim, amo. E perguntou outra vez: Tu amas-Me? Ele respondeu: Sim, amo. Perguntou-lhe ainda pela terceira vez: Tu amas-Me? E ele respondeu-Lhe novamente: Sim, amo. Deste modo o quis fortalecer no amor para o confirmar na unidade. Portanto, é Ele só que apascenta nos pastores e é só n’Ele que os pastores apascentam.
E assim, se por um lado nada se diz dos pastores, por outro fala-se realmente deles. Gloriem-se os pastores, mas quem se gloria, glorie-se no Senhor. É assim que apascenta Cristo, que se apascenta para Cristo, que se apascenta em Cristo, que não se apascenta sem Cristo.
Não foi por falta de pastores – como anunciou o Profeta para os tempos da desgraça que estavam para vir – que o Senhor disse: Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas, como se dissesse: «Não tenho a quem as confiar». Na verdade, quando o próprio Pedro e os outros Apóstolos viviam ainda neste mundo, Aquele que é o único Pastor e no qual todos os outros são um só, disse: Tenho outras ovelhas que não são deste redil; e é preciso que Eu as traga, para que haja um só rebanho e um só pastor.
Portanto, estejam todos os pastores no único Pastor e proclamem a voz única do Pastor; oiçam as ovelhas esta voz e sigam o seu Pastor: não este ou aquele, mas o único Pastor. Apregoem todos com Ele uma só voz e não haja vozes diversas. Suplico-vos, irmãos, que tenhais todos uma só voz e que não haja entre vós divisões. Oiçam as ovelhas esta voz, purificada de toda a divisão, livre de toda a heresia, e sigam o seu Pastor que diz: As minhas ovelhas ouvem a minha voz e seguem-Me.
Do Sermão de Santo Agostinho, bispo, sobre os Pastores
(Sermo 46, 29-30: CCL 41, 555-557) (Sec. V)
(Sermo 46, 29-30: CCL 41, 555-557) (Sec. V)
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