O Verbo de Deus, Filho do eterno Pai, não abandonou a natureza humana que caminhava para a ruína, mas com a oblação do seu próprio corpo destruiu a morte, sob cujo domínio o homem tinha caído. Com os seus ensinamentos corrigiu a negligência humana e pelo seu poder restaurou tudo o que o gênero humano tinha perdido.
Quem ler os escritos dos autores sagrados verá tudo isto confirmado com a sua autoridade de discípulos do Salvador, quando dizem: O amor de Cristo nos impele, ao pensarmos que um só morreu por todos e que todos portanto morreram. Cristo morreu por todos, para que os vivos deixem de viver para si próprios, mas vivam para Aquele que morreu e ressuscitou por eles. E noutro lugar: Aquele Jesus que por um pouco foi infe- rior aos Anjos, vemo-l’O agora coroado de glória e de honra por causa da morte que sofreu, pois era necessário que pela graça de Deus experimentasse a morte em proveito de todos.
A seguir, o mesmo texto indica a razão pela qual só o Filho de Deus, e não qualquer outro, devia fazer-Se homem: Convinha, na verdade, que Deus, origem e fim de todas as coisas, querendo conduzir para a sua glória um grande número de filhos, levasse à glória perfeita pelo sofrimento o Autor da salvação. Estas palavras significam que libertar os homens da corrupção corresponde unicamente ao Verbo de Deus, por quem no princípio foram criados.
Se o Verbo tomou corpo, foi para poder oferecer-Se como vítima pelos que tinham corpos semelhantes ao seu, como de- clara a Escritura: Uma vez que os filhos têm o mesmo sangue e a mesma carne, também Ele compartilhou igualmente a mesma natureza, para reduzir à impotência, pela sua morte, aquele que tinha o poder sobre a morte, isto é, o diabo, e libertar aqueles que pelo receio da morte se encontravam durante a vida inteira sujeitos à escravidão. Assim, ao imolar o próprio corpo, pôs fim à lei que pesava sobre nós e, pela esperança da ressurreição, fez-nos começar uma vida nova.
Porque a morte tinha recebido dos homens as forças com que os dominara; mas pela encarnação do Verbo de Deus foi destruída a morte e restaurada a vida, como diz o Apóstolo: Uma vez que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos; porque do mesmo modo que em Adão todos morrem, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida. Já não morremos como condenados, mas morremos com a esperança de ressuscitar dos mortos, no dia da ressurreição universal que Deus realizará e nos concederá a seu tempo.
Dos Sermões de Santo Atanásio, bispo
(Oratio de incarnatione Verbi, 10: PG 25, 111-114) (Sec. IV)
(Oratio de incarnatione Verbi, 10: PG 25, 111-114) (Sec. IV)
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