sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Santa Teresinha do Menino Jesus


A vida da Santa Teresinha do Menino Jesus marca na História da Igreja uma nova forma de entregar-se à religiosidade. No lugar do medo do "Deus duro e vingador", ela coloca o amor puro e total a Jesus, amor puro, infantil e total, como deixaria registrado nos livros "Infância Espiritual" e "História de uma alma". 

Teresinha na França, em 02 de janeiro de 1873. Foi batizada com o nome de Maria Francisca. Nasceu numa família muito religiosa. Aos quinze anos conseguiu permissão para entrar no o Carmelo, em Lisieux, concedida especial e pessoalmente pelo Papa Leão XIII. 

Sua obra não frutificou pela ação evangelizadora ou atividade caritativa, mas sim em oração, sacrifícios, provações, penitências e imolações, santificando o seu cotidiano enquanto carmelita. 

Teresinha teve seus últimos anos consumidos pela terrível tuberculose que, no entanto, não venceu sua paciência com os desígnios do Supremo. Morreu em primeiro de outubro de 1897 com vinte e quatro anos, depois de prometer uma chuva de rosas sobre a Terra quando expirasse. Essa chuva ainda cai sobre nós, em forma de uma quantidade incalculável de graças e milagres alcançados através de sua intervenção em favor de seus devotos. 

O papa Pio XI a chamou de "Padroeira especial de todos os missionários, homens e mulheres, e das missões existentes em todo o universo”. 


Santa Teresinha, a vós recorremos em nossas trevas. Alcançai para nós, para a nossa pátria, as luzes do Divino Espírito Santo, para que todo o nosso íntimo seja luz e claridade, para que recebamos sempre os raios benéficos e esplêndidos de quem se apresentava ao mundo como a Luz celeste. Amém. 

Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo


Cumpro o meu dever, obedecendo aos preceitos de Cristo, que diz: Examinai as Escrituras, e: Procurai e encontrareis, para que não tenha de ouvir o que foi dito aos judeus: Estais enganados, porque não conheceis as Escrituras nem o poder de Deus. Se, de facto, como diz o apóstolo Paulo, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, aquele que não conhece as Escrituras não conhece o poder de Deus nem a sua sabedoria. Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo.
 
Por isso quero imitar o pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e antigas, e também a esposa que diz no Cântico dos Cânticos: Guardei para ti, meu amado, frutos novos e antigos. Assim comentarei o livro de Isaías, apresentando-o não apenas como profeta, mas também como evangelista e apóstolo. Ele próprio diz, referindo-se a si e aos outros evangelistas: Como são belos, sobre os montes, os pés dos que anunciam boas novas, dos que anunciam a paz. E Deus fala-lhe como a um apóstolo: A quem hei-de enviar? Quem irá ter com este povo? E ele respondeu: Eis-me aqui, enviai-me.
 
Ninguém julgue que eu desejo explicar de modo completo, em tão poucas palavras, o conteúdo deste livro da Escritura, que abrange todos os mistérios do Senhor. Efectivamente, no livro de Isaías o Senhor é preanunciado como o Emanuel que nasceu da Virgem, como autor de prodígios e milagres, como morto, sepultado e ressuscitado de entre os mortos e como Salvador de todos os povos. Que dizer da sua doutrina sobre física, ética e lógica? Este livro é como um compêndio de todas as Escrituras e contém em si tudo o que a língua humana pode exprimir e a inteligência dos mortais pode compreender. Da profundidade dos seus mistérios dá testemunho o próprio autor quando escreve: Para vós toda a visão será como as palavras de um livro selado. Se se dá a quem sabe ler, dizendo: «Lê-o por favor», ele responde: «Não posso, porque está selado». E se se dá a quem não sabe ler, dizendo: «Lê-o por favor», ele responde: «Não sei ler».
 
E se parece débil a alguém esta reflexão, oiça o que diz o Apóstolo: As aspirações dos profetas sejam submetidas aos profetas, de modo que tenham possibilidade de falar ou de se calar. Portanto, os Profetas compreendiam o que diziam e por isso todas as suas palavras estão cheias de sabedoria e de sentido. Aos seus ouvidos não chegavam apenas as vibrações da voz; Deus falava ao seu espírito, como diz outro profeta: O Anjo falava em mim; e também: Clama nos nossos corações: Aba, Pai; e ainda: Escutarei o que diz o Senhor.



Do Prólogo ao Comentário de São Jerônimo, presbítero, sobre o Livro do Profeta Isaías
(Nn. 1.2: CCL 73, 1-3) (Sec. V)

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

São Jerônimo


Neste último dia do mês da Bíblia, celebramos a memória do grande “tradutor e exegeta das Sagradas Escrituras”: São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja. Ele nasceu na Dalmácia em 340, e ficou conhecido como escritor, filósofo, teólogo, retórico, gramático, dialético, historiador, exegeta e doutor da Igreja. É de São Jerônimo a célebre frase: “Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”.

Com posse da herança dos pais, foi realizar sua vocação de ardoroso estudioso em Roma. Estando na “Cidade Eterna”, Jerônimo aproveitou para visitar as Catacumbas, onde contemplava as capelas e se esforçava para decifrar os escritos nos túmulos dos mártires. Nessa cidade, ele teve um sonho que foi determinante para sua conversão: neste sonho, ele se apresentava como cristão e era repreendido pelo próprio Cristo por estar faltando com a verdade (pois ainda não havia abraçado as Sagradas Escrituras, mas somente escritos pagãos). No fim da permanência em Roma, ele foi batizado.

Após isso, iniciou os estudos teológicos e decidiu lançar-se numa peregrinação à Terra Santa, mas uma prolongada doença obrigou-o a permanecer em Antioquia. Enfastiado do mundo e desejoso de quietude e penitência, retirou-se para o deserto de Cálcida, com o propósito de seguir na vida eremítica. Ordenado sacerdote em 379, retirou-se para estudar, a fim de responder com a ajuda da literatura às necessidades da época. Tendo estudado as línguas originais para melhor compreender as Escrituras, Jerônimo pôde, a pedido do Papa Dâmaso, traduzir com precisão a Bíblia para o latim (língua oficial da Igreja na época). Esta tradução recebeu o nome de Vulgata. Assim, com alegria, dedicação sem igual e prazer se empenhou para enriquecer a Igreja universal.

Saiu de Roma e foi viver definitivamente em Belém no ano de 386, onde permaneceu como monge penitente e estudioso, continuando as traduções bíblicas, até falecer em 420, aos 30 de setembro com, praticamente, 80 anos de idade. A Igreja declarou-o padroeiro de todos os que se dedicam ao estudo da Bíblia e fixou o “Dia da Bíblia” no mês do seu aniversário de morte, ou ainda, dia da posse da grande promessa bíblica: a Vida Eterna.

“Todos acorriam a ele, e cada qual procurava ganhar-lhe a vontade: uns louvavam sua santidade, outros a doutrina, outros sua doçura e trato suave e benigno, e finalmente todos tinham postos os olhos nele como em um espelho de toda virtude, de penitência, e oráculo de sabedoria”. - Pe. Ribadaneira.

São Jerônimo, rogai por nós!



Ó Deus, criador do universo, que vos revelastes aos homens, através dos séculos, pela Sagrada Escritura, e levastes o vosso servo São Jerônimo a dedicar a sua vida ao estudo e à meditação da Bíblia, dai-me a graça de compreender com clareza a vossa palavra quando leio a Bíblia. Por Cristo nosso Senhor. Amém. 

A palavra «Anjo» designa a sua função, não a sua natureza



Deveis saber que a palavra «Anjo» designa uma função, não uma natureza. Na verdade, aqueles santos espíritos da pátria celeste são sempre espíritos, mas nem sempre se podem chamar Anjos. Só são Anjos quando exercem a função de mensageiros. Os que transmitem mensagens de menor importância chamam-se Anjos; os que transmitem mensagens de maior transcendência chamam-se Arcanjos.

Esta é a razão pela qual à Virgem Maria não foi enviado um Anjo qualquer mas o Arcanjo Gabriel; de facto, era justo que para esta missão fosse enviado um Anjo superior, porque vinha anunciar a maior de todas as mensagens.
 
É pela mesma razão que se lhes atribuem nomes particulares, que designam a missão respectiva que desempenham. Na santa cidade do Céu, onde a visão de Deus omnipotente dá um perfeito conhecimento de tudo, não precisam de nomes próprios para se distinguirem uns dos outros; mas quando vêm realizar alguma missão junto dos homens, são conhecidos pelo nome da função que exercem.
 
Assim, Miguel significa «Quem como Deus?»; Gabriel, «Fortaleza de Deus»; e Rafael, «Medicina de Deus».
 
Quando se trata de realizar algum mistério que exige um poder especial, verifica-se que é Miguel o enviado, para dar a entender, pela sua acção e pelo seu nome, que ninguém pode actuar como Deus. Por isso aquele antigo inimigo, que pela sua soberba pretendeu ser semelhante a Deus, dizendo: Subirei até ao céu, levantarei o meu trono acima dos astros do céu e serei semelhante ao Altíssimo, será abandonado a si mesmo no fim do mundo e condenado ao extremo suplício. É este que São João no Apocalipse nos apresenta a combater contra o Arcanjo Miguel: Travou-se um combate no Céu contra o Arcanjo Miguel.
 
A Maria foi enviado Gabriel, que significa «Fortaleza de Deus», porque veio anunciar Aquele que, apesar da sua aparência humilde, havia de triunfar sobre os poderes superiores. Convinha, de facto, ser anunciado pela «Fortaleza de Deus» Aquele que vinha ao mundo como Senhor dos Exércitos e poderoso nas batalhas.
 
Rafael, como dissemos, quer dizer «Medicina de Deus», como se compreende na missão que teve junto de Tobias: tocou-lhe os olhos como um médico e dissipou as trevas da sua cegueira. Por isso, aquele que foi enviado para curar é chamado «Medicina de Deus».


Das Homilias de São Gregório Magno, papa, sobre os Evangelhos
(Hom. 34, 8-9: PL 76, 1250-1251) (Sec. VI)

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael


Com alegria, comemoramos a festa de três Arcanjos neste dia: Miguel, Gabriel e Rafael. A Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo, herdou do Antigo Testamento a devoção a estes amigos, protetores e intercessores que do Céu vêm em nosso socorro pois, como São Paulo, vivemos num constante bom combate. A palavra “Arcanjo” significa “Anjo principal”. E a palavra “Anjo”, por sua vez, significa “mensageiro”.

São Miguel


O nome do Arcanjo Miguel possui um revelador significado em hebraico: “Quem como Deus”. Segundo a Bíblia, ele é um dos sete espíritos assistentes ao Trono do Altíssimo, portanto, um dos grandes príncipes do Céu e ministro de Deus. No Antigo Testamento o profeta Daniel chama São Miguel de príncipe protetor dos judeus, enquanto que, no Novo Testamento ele é o protetor dos filhos de Deus e de sua Igreja, já que até a segunda vinda do Senhor estaremos em luta espiritual contra os vencidos, que querem nos fazer perdedores também. “Houve então um combate no Céu: Miguel e seus anjos combateram contra o dragão. Também o dragão combateu, junto com seus anjos, mas não conseguiu vencer e não se encontrou mais lugar para eles no Céu”. (Apocalipse 12,7-8).

São Gabriel


O nome deste Arcanjo, citado duas vezes nas profecias de Daniel, significa “Força de Deus” ou “Deus é a minha proteção”. É muito conhecido devido a sua singular missão de mensageiro, uma vez que foi ele quem anunciou o nascimento de João Batista e, principalmente, anunciou o maior fato histórico: “No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré… O anjo veio à presença de Maria e disse-lhe: ‘Alegra-te, ó tu que tens o favor de Deus’…” a partir daí, São Lucas narra no primeiro capítulo do seu Evangelho como se deu a Encarnação.

São Rafael


Um dos sete espíritos que assistem ao Trono de Deus. Rafael aparece no Antigo Testamento no livro de Tobit (Tobias). Este arcanjo de nome “Deus curou” ou “Medicina de Deus”, restituiu à vista do piedoso Tobit e nos demonstra que a sua presença, bem como a de Miguel e Gabriel, é discreta, porém, amiga e importante.“Tobias foi à procura de alguém que o pudesse acompanhar e conhecesse bem o caminho. Ao sair, encontrou o anjo Rafael, em pé diante dele, mas não suspeitou que fosse um anjo de Deus” (Tob 5,4).
São Miguel, São Gabriel e São Rafael, rogai por nós!



Ó Deus, que entre todos os anjos escolhestes Arcanjos para anunciar seus mistérios de amor, concedei-nos que ao celebrarmos na terra a sua memória sintamos a sua proteção celestial. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. 

Cresçamos na fé e na justiça


Peço-vos a todos que obedeçais à palavra da justiça e em tudo exerciteis a paciência. Esta paciência pudestes vós contemplá-la com os vossos próprios olhos, não só nos bem-aventu- rados Inácio, Zósimo e Rufo, mas também em muitos outros que eram da vossa comunidade, bem como no próprio Paulo e nos outros Apóstolos. Lembrai-vos de que todos estes não correram em vão, mas na fé e na justiça, e se encontram agora no lugar que mereceram, junto do Senhor, com quem também padeceram. Porque eles não amaram este mundo, mas Aquele que por nós morreu e que Deus ressuscitou por causa de nós.
 
Permanecei nestes sentimentos e segui o exemplo do Senhor, firmes e inabaláveis na fé, amando-vos uns aos outros com amor fraterno, conservando-vos unidos na verdade, procedendo reciprocamente com a mansidão do Senhor, sem desprezar ninguém. Quando podeis fazer o bem, não adieis a oportunidade, porque a esmola livra da morte. Sede submissos uns para com os outros, tende no meio dos pagãos um comportamento irrepreensível, de modo a merecerdes ser louvados pelas vossas boas obras e o Senhor não seja blasfemado por vossa culpa. Ai daquele por cuja culpa se blasfema o nome de Deus! Ensinai a todos a viver santamente, como vós mesmos viveis.
 
Estou profundamente contristado por causa de Valente, que foi durante algum tempo presbítero na vossa comunidade e que vive agora esquecido do ministério que se lhe tinha confiado. Por isso vos exorto a que eviteis a avareza e sejais castos e leais. Fugi de todo o mal. Quem não se pode controlar nestas coisas, como irá anunciá-las aos outros? Quem não se abstém da avareza, acaba por ser contagiado pela idolatria e considerado como pagão que ignora o juízo de Deus. Ou não sabemos que os santos julgarão o mundo, como ensina Paulo? 

Por minha parte, nada disto conheci ou ouvi dizer de vós, em cuja comunidade trabalhou o bem-aventurado Paulo, que vos louva no início da sua epístola. Com efeito, Paulo gloria-se de vós perante todas as Igrejas que então conheciam a Deus, quando nós ainda O não conhecíamos.
 
É por isso, irmãos, que estou muito contristado por causa de Valente e de sua esposa. O Senhor lhes conceda o verdadeiro arrependimento. Tratai-os com discrição e não os considereis como inimigos, mas reconduzi-os como membros que sofrem e erram, para que todo o corpo seja salvo. Fazendo assim, edificar-vos-eis a vós mesmos.



Da Carta de São Policarpo, bispo e mártir, aos Filipenses
(Cap. 9, 1 – 11, 4: Funk 1, 275-279) (Sec. II)

terça-feira, 27 de setembro de 2016

São Venceslau


Venceslau nasceu em 907 e logo se tornou herdeiro do trono da Boêmia. Sua ascensão ao trono provocou a ira da própria mãe, que desejava assumir o comando do país ou então dar o reinado ao outro filho Boleslau. A ganância de sua mãe foi tão grande que Boleslau acabou assassinando seu próprio irmão. 

A história nos conta que Draomira, mãe de Venceslau, tentou assumir o trono. Sua presença foi terrível para o cristianismo, que foi perseguido em todas as províncias. O povo porém, sabendo da eleição de Venceslau, obrigou a malvada rainha a abandonar o trono. A avó de Venceslau o ajudou a valorizar o cristianismo. A pobre velhinha foi também assassinada enquanto rezava. 

Venceslau tinha conquistado a confiança, a graça e simpatia do povo, que viam nele um verdadeiro líder, um exemplo a ser seguido. Dedicava-se aos mais pobres, encarcerados, doentes, viúvas e órfãos, aos quais fazia questão de ajudar e levar palavras de fé, carinho e consolo. Sua mãe eastava cada vez mais disposta a eliminá-lo e reasssumir o trono. 

Draomira e Boleslau, inconformados com a popularidade de Venceslau, arquitetaram um plano diabólico para acabarem com sua vida. No dia 28 de setembro de 929, durante a festa de batismo de seu sobrinho, enquanto todos festejavam, Venceslau se retirou à capela para rezar. Draomira sugeriu ao filho Boleslau que aquele seria o melhor momento para matar o próprio irmão. Boleslau invadiu a capela e apunhalou o irmão no altar da igreja. 

O seu corpo foi sepultado na igreja de São Vito, em Praga. Desde então passou a ser cultuado como santo. Sua mãe, dias depois, teve uma morte trágica e Boleslau foi condenado pela rei Otão I. De nada valeu tanta violência. 



Ó Deus, Pai de bondade, Pai de misericórdia, eu Te louvo, eu Te bendigo, eu Te adoro. A exemplo de São Venceslau, quero encontrar no Evangelho inspiração constante para minha vida. Quero viver as bem-aventuranças e cumprir com alegria o mandamento do amor. Amém.

O serviço dos pobres deve ser preferido acima de tudo


A nossa atitude para com os pobres não se deve regular pela sua aparência externa nem sequer pelas suas qualidades interiores. Devemos considerá-los, antes de mais, à luz da fé. O Filho de Deus quis ser pobre e ser representado pelos pobres. Na sua paixão, quase perdeu o aspecto de homem; apareceu como um louco para os gentios e um escândalo para os judeus. Todavia, apresentou-Se a estes como evangelizador dos pobres:
 
Enviou-Me para evangelizar os pobres. Também nós devemos ter os mesmos sentimentos de Cristo e imitar o que Ele fez: cuidar dos pobres, consolá-los, socorrê-los e recomendá-los.
 
Cristo quis nascer pobre, chamar para sua companhia discípulos pobres, servir os pobres e identificar-se com os pobres, a ponto de dizer que o bem ou o mal feito a eles o tomaria como feito a Si mesmo. Deus ama os pobres, e por conseguinte ama também aqueles que os amam. Na verdade, quando alguém tem especial afecto a uma pessoa, estende também este afecto aos seus amigos e servos. Por isso temos razão para esperar que, por causa do nosso amor dos pobres, também nós seremos amados por Deus.
 
Quando os visitamos, procuremos compreender a sua pobreza e infelicidade para sofrer com eles e ter os sentimentos de que fala o Apóstolo, quando diz: Fiz-me tudo para todos. Esforcemo-nos por sentir profundamente as preocupações e misérias dos nossos semelhantes; peçamos a Deus que nos dê o espírito de misericórdia e compaixão e que conserve sempre em nossos corações estes sentimentos.
 
O serviço dos pobres deve ser preferido a todos os outros e deve ser prestado sem demora. Se durante o tempo de oração, tiverdes de levar um medicamento ou qualquer auxílio a um pobre, ide tranquilamente, oferecendo a Deus essa boa obra como prolongamento da oração. E não tenhais nenhum escrúpulo ou remorso de consciência se, para prestar serviço aos pobres, tivestes de deixar a oração. De facto não se trata de deixar a Deus, se é por amor de Deus que deixamos a oração: servir um pobre é também servir a Deus.
 
A caridade é a máxima norma, e tudo deve tender para ela; é uma grande senhora: devemos cumprir o que ela manda. Renovemos, portanto, o nosso espírito de serviço aos pobres, principalmente para com os mais abandonados. Esses hão-de ser os nossos senhores e protectores.



Dos Escritos de São Vicente de Paulo, presbítero
(Carta 2546: Correspondance, entretiens, documents,
Paris 1922-1925, 7) (Sec. XVII)

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

São Vicente de Paulo


Vicente de Paulo foi realmente uma figura extraordinária para a Humanidade. Nasceu na França, no dia 24 de abril de 1581. Na infância era um simples guardador de porcos. Aos dezenove anos foi ordenado padre. Ficou dois anos sob a tutela de um senhor muçulmano, que acabou convertendo-se e o libertou. 

Pela sua bondade e sabedoria, Vicente logo ganhou a amizade de muitas personalidades. Mas, quem mais era merecedor da piedade e atenção de Vicente de Paulo, eram mesmo os pobres, os menos favorecidos, que sofriam as agruras da miséria. 

Apesar de ter sempre pouco tempo para os livros, tinha muito para tratar e dar alívio espiritual. Foi Ministro da Caridade do rei francês. Com isso, organizou um trabalho de assistência aos pobres em escala nacional. Fundou e organizou quatro instituições voltadas para a caridade: "A Confraria das Damas da Caridade", os "Servos dos Pobres", a "Congregação dos Padres da Missão", conhecidos como padres lazaristas, em 1625 e, principalmente, as "Filhas da Caridade", em 1633. 

Vicente de Paulo morreu em Paris no dia 27 de setembro de 1660, mas sua obra de caridade sobrevive nos inúmeros religiosos, religiosas e leigos que continuam a dedicar tempo ao serviço aos mais necessitados. 



Glorioso São Vicente, celeste padroeiro de todas as associações de caridade e pai de todos os infelizes; alcançai do Senhor socorro para os pobres, auxilio aos enfermos, consolação aos aflitos, proteção aos desamparados, conversão aos pecadores, zelo aos sacerdotes, paz à Igreja, tranqüilidade aos povos e a todos Salvação. Amém 

Revistamo-nos com as armas da justiça


Eu vos escrevo sobre a justiça, não por pretensão minha, mas por insistência vossa. Pois nem eu nem outro semelhante a mim pode igualar a sabedoria do santo e glorioso Paulo. Estando junto de vós, diante dos homens vivos naquela ocasião, ensinou com perfeição e firmeza a palavra da verdade e, ausente, vos enviou cartas. Por estas, se as lerdes com atenção, sereis edificados na fé que vos foi dada. Ela é a mãe de todos nós (Gl 4,26),  seguida pela esperança, precedida pela caridade em Deus, em Cristo e no próximo. Quem estiver envolvido por elas, cumpre o mandamento da justiça; pois quem tem a caridade mantém longe de si o pecado.

A raiz de todos os males é a ânsia de possuir (1Tm 6,10). Certos de que nada trouxemos para este mundo nem dele poderemos levar coisa alguma (1Tm 6,7), revistamo-nos com as armas da justiça e ensinemos a caminhar no preceito do Senhor. A nós mesmos em primeiro lugar; depois, a vossas esposas, para que andem na fé que lhes foi entregue e na caridade e castidade. Que amem seus maridos com inteira fidelidade e estimem a todos com recato. Eduquem os filhos na disciplina do temor de Deus (cf. Ef 5,23s). Às viúvas ensinemos a serem versadas na doutrina do Senhor, intercedendo sem cessar por todos, afastadas de toda a impostura, maledicência, falso testemunho, da avareza e de todo mal. Conscientes de serem altar de Deus e de que ele tudo vê claramente, nada lhe escapa de apreciações, de pensamentos e dos segredos do coração (cf. 1Tm 5).

Sabendo, portanto, que não se zomba de Deus (Gl 6,7), devemos caminhar de modo digno conforme a seu preceito manifesto. Igualmente têm os diáconos de ser irrepreensíveis em face de sua justiça, como ministros de Deus e do Cristo, não dos homens. Não sejam maldizentes, falsos, avaros (cf. 1Tm 3,6s), mas sóbrios em tudo, misericordiosos, dedicados, vivendo de acordo com a verdade do Senhor que se fez o servo de todos. Se lhe formos agradáveis neste mundo, seremos recompensados no outro, como nos prometeu: ele ressuscitará dos mortos a cada um de nós. Se vivermos de modo digno dele, também com ele reinaremos (2Tm 2,12), já que temos fé.


Da Carta aos filipenses, de São Policarpo, bispo e mártir
(Nn.3,1-5,2: Funk 1,269-273)           (Séc.I)

domingo, 25 de setembro de 2016

Santa Justina e São Cipriano de Antioquia (ex-bruxo)


A figura de São Cipriano mago é lendária. Deve ter sido criada no século IV e na Ásia Menor para ilustrar um tema caro aos antigos: a do feiticeiro que vende a sua alma ao diabo, mas se converte a Cristo. A figura de Cipriano mago a lenda associou a da Justina, virgem a mártir, também para ilustrar um tema muito estimado pelos cristãos: a da virgem que supera as armadilhas do homem que a quer seduzir. O autor da lenda deu ao mago convertido o nome de Cipriano, que era a de famoso bispo de Cartago martirizado em 258. O recurso a este nome obteve mais estima e crédito para a lenda, que na Idade Média foi corroborada pela introdução de S. Cipriano e S. Justina no calendário litúrgico (aos 26/09). O "Livro poderoso de S. Cipriano" tem seu núcleo já no século IV, quando se difundiam as "Preces de Cipriano", utilizadas quase como fórmulas mágicas. Popularmente fala-se muito do um São Cipriano mago, que teria deixado um "Livro Poderoso": "lido para a frente, lido para trás", esse livro provocaria fenômenos estranhos: as vacas parariam de dar leite, os animais adoeceriam, os homens seriam prejudicados. Daí as perguntas: quem foi S. Cipriano mago? Quando viveu? Que Livro Poderoso deixou? É o que vamos examinar.

Santa Justina e São Cipriano[1]


No começo do século IV, em Antioquia da Síria o diácono Prailio pregava as verdades da fé, quando uma bela e rica jovem chamada Justa o ouviu a partir de uma janela e ficou impressionada. Seu pai Edésio, sacerdote dos ídolos, e sua mãe Cledônia a educaram nas tradições pagãs. 

Ela contou o fato à sua mãe, que, por sua vez, o relatou a seu marido Edésio. A família ficou perplexa, sem saber a que faria; todavia na noite seguinte apareceu-lhes Jesus Cristo com seus anjos e lhes disse: "Vinde a mim e eu vos darei o reino dos céus". 

Em consequência, chegado o dia, pai e mãe levaram a filha ao diácono Prailio, que os apresentou ao bispo Optato. Este os batizou e ordenou sacerdote Edésio, pai de Justa, que com o batismo, passou a ser chamada de Justina (que quer dizer: justiça). 

Justina entrementes frequentava assiduamente a igreja, dedicando sua vida às orações, consagrando e preservando sua virgindade, onde um jovem, de nome Aglaidas, a via muitas vezes passar e se apaixonou por ela. Pediu-a em casamento; os pais da donzela, agora já convertidos à fé cristã, concederam-na a ele por esposa, mas Justa recusou-se, dizendo-lhe: "Meu esposo é Cristo, a Ele sirvo, é por causa dele que eu preservo a minha pureza. Ele preserva tanto a minha alma e meu corpo de todas as impurezas".

Então Aglaidas, acompanhado do amigos, colocou-se no seu caminho, vedando-lhe a passagem; queria raptá-la. Mas as mulheres que acompanhavam Justa, puseram-se a gritar tanto que os servidores e vizinhos acorreram, pondo os agressores em fuga.



Cipriano de Antioquia, o feiticeiro, assim denominado para distinguir-se de Cipriano de Cartago, era filho de pais pagãos muito ricos. Nasceu em 250 d.C. na Antioquia, região situada entre a Síria e Arábia, pertencente ao governo da Fenícia. Desde a infância, Cipriano foi induzido aos estudos da feitiçaria e das ciências ocultas como a alquimia, astrologia, adivinhação e as diversas modalidades de magia.

Após muito tempo viajando pelo Egito, Grécia e outros países aperfeiçoando seus conhecimentos, aos trinta anos de idade Cipriano foi à Babilônia a fim de conhecer a cultura ocultista dos Caldeus. Encontrou a Bruxa Évora e intensificou seus estudos e aprimorou a técnica da premonição. Évora morreu em avançada idade deixando seus manuscritos para Cipriano, o que foi de grande proveito para ele. O feiticeiro logo se tornou conhecido, respeitado e temido por onde passava.

Aglaidas não havia desistido do seu intento. Sabia que existia um mago poderoso chamado Cipriano; foi procurá-lo, prometendo-lhe dois talentos (grande quantia) caso conquistasse o coração de Justa para o seu pretendente. 

Cipriano iniciou o ataque contra Justina: usou um pó que despertaria a luxúria, ofereceu sacrifícios aos demônios e empregou diversas obras malignas. Mas Justina se defendia redobrando as orações a Deus, e das profundezas do seu coração clamava a Cristo, seu Noivo: "Ó Senhor, meu Deus, Jesus Cristo! Eis quantos inimigos se levantaram contra mim e têm preparado uma rede, a fim de me pegar e tirar a minha alma. Mas lembrei-me do teu nome no meio da noite e me rejubilo,  agora, quando eles estão lutando contra  mim, recorro a Ti e tenho esperanças que o meu inimigo não triunfará sobre mim. Porque tu sabes, ó Senhor meu Deus, que eu, tua escrava, tenho preservado a ti a pureza do meu corpo e tenho confiado a minha alma a ti. Preservai tua ovelha, ó bom pastor; não a dês para ser comida pelo monstro que tenta devorar-lhe, dai-me a vitória sobre o mau desejo da minha carne", e fazendo o Sinal da Cruz a cada novo ataque do demônio, e as magias não obtinham resultado. 



Cipriano então evocou um demônio... Este lhe entregou um veneno, que devia ser espalhado em torno da casa da moça. Quando esta se levantou para rezar, sentiu o ataque do Maligno; mas logo fez o sinal da Cruz sobre si e sobre a casa e orou fervorosamente ao Senhor. À vista disto, o demônio comunicou a Cipriano que a tentativa fora malograda. O mago, querendo salvar sua fama, chamou outro demônio, mais poderoso; também este foi vencido, mas não quis revelar a Cipriano o artifício que o desbaratara.

O mago, ainda mais ardoroso, evocou o pai dos demônios, que lhe apareceu, prometendo-lhe entregar a moça dentro de seis dias. Apresentou-se o tentador a Justa sob a aparência de uma jovem... Esta declarou a Justina que Jesus Cristo a enviara para levar com ela uma vida perfeita. E acrescentou: "Que recompensa esperas receber por guardares a virgindade? Vejo-te esgotada pelos jejuns". Ao que Justa respondeu: "O fardo é leve, mas a recompensa é enorme". Prosseguiu o Maligno ainda disfarçado: "No começo Deus abençoou Adão e Eva, dizendo-lhes: “Crescei, multiplicai-vos, e enchei a terra'. Parece-me que, se perseverarmos na virgindade, desprezaremos a palavra do Deus e seremos tratadas como rebeldes no dia do juízo final'. Justina sentiu-se abalada por esta observação, mas recuperou-se e, fazendo o sinal da cruz com oração, soprou sobre o demônio, que fugiu.


  
Cipriano então pediu ao Maligno que lhe dissesse por que e como fora derrotado. O demônio só consentiu em falar depois que Cipriano lhe jurou que permaneceria sempre fiel ao demônio que lhe revelou a verdade: "Nós não podemos contemplar o sinal da cruz, mas fugimos dele, porque ele nos castiga como o fogo e expulsa-nos longe". Isto enfureceu Cipriano, que tratou o diabo de mentiroso; mandou-lhe que se retirasse; quando o Maligno quis pular sobre Cipriano para sufocá-lo, não encontrando defesa em qualquer lugar, e não sabendo como ajudar a si próprio de ser entregue nas mãos do feroz demônio, Cipriano, já quase sem vida, lembrou do sinal da cruz, pelo poder do qual se opôs Justina ao poder  de todos os demônios, e clamou: "Ó Deus de Justina, me ajude!" Então, levantando a mão, ele fez o sinal da cruz, e o diabo imediatamente saltou para longe dele como uma flecha de um arco. 

Ganhando coragem, Cipriano tornou-se mais ousado, e invocando o nome de Cristo, assinalou-se com o sinal da cruz e destemidamente repreendeu e amaldiçoou o demôniodizendo: "Ó destruidor e enganador de tudo, fonte de toda impureza e corrupção! Agora eu descobri tua enfermidade. Porque, se você tem medo até da sombra da cruz e treme ao nome de Cristo, então o que você fará quando o próprio Cristo vier a ti? Se você não pode derrotar aqueles que se assinalam com o sinal da cruz, quem é que você vai arrancar das mãos de Cristo? Agora eu entendi o que é uma entidade não ter poder, você nem sequer é capaz de se vingar, e eu acreditei nos seus truques... Afasta-te de mim, maldito, a fim de que eu deva implorar aos cristãos para que tenham piedade de mim. Afasta-te, inimigo da verdade, adversário e inimigo de todas as coisas boas!". 

A ineficácia dos feitiços fez com que Cipriano caísse em si e se desiludisse profundamente de sua fé pagã e se voltasse contra o demônio. Ele foi ter com o bispo contando-lhe tudo o que havia acontecido, protestando sincero arrependimento e pedindo-lhe que o instruísse na fé cristã e, ao voltar para casa, destruiu os seus ídolos.

No dia seguinte, que era Sábado Santo, Cipriano voltou à igreja, onde ouviu leituras sagradas e a homilia do bispo. No momento em que o diácono Astério convidava os catecúmenos para se retirar,[2]Cipriano ficou na igreja para grande surpresa do diácono, que insistiu dizendo: "Cipriano, levanta-te e sai". Replicou Cipriano: "Tornei-me servidor de Cristo e tu me expulsas!" 



Então Cipriano pegou todos os seus livros de magia e foi até o bispo Anthimus. Caindo aos pés do bispo, ele pediu que tivesse misericórdia dele e desse-lhe o Batismo. Sabendo que Cipriano foi um grande mago, temido por todos, o bispo achava que ele tinha chegado a ele com algum tipo de truque e, portanto, ele se recusou, dizendo: "Você faz muito mal entre os pagãos,  deixe os cristãos em paz, para que nenhum pereça”. Então, com lágrimas, Cipriano confessou tudo ao Bispo e deu-lhe seus livros para serem queimados. Vendo a sua humildade, o Bispo instruiu-lhe e ensinou-lhe a santa fé, e, em seguida, ordenou-lhe para se preparar para o Batismo. Assim, o bruxo se converteu ao Cristianismo. Deixando o Bispo com um coração contrito, Cipriano chorou por seus pecados, polvilhado cinzas sobre a cabeça, e sinceramente arrependido, queimou seus manuscritos de feitiçaria, distribuiu seus bens entre os pobres e chamou o Deus verdadeiro para a limpeza de suas iniquidades. 



Cipriano avançou tanto no conhecimento da doutrina como na vida cristã que oito dias depois, deu-lhe o ministério do leitor; vinte e cinco dias mais tarde, fê-lo ostiário e subdiácono; cinquenta dias depois, diácono e, finalmente, no fim do ano, presbítero. Passados dezesseis anos, Antímio estava para morrer e obteve que Cipriano lhe sucedesse na função episcopal. Feito Bispo, Cipriano promoveu a jovem Justina à frente de um grupo de muitas virgens ao cargo de diaconisa; trocou seu nome pelo de Justina e a fez Superiora de uma comunidade monástica. O resto da vida de Cipriano foi dedicado a combater as heresias.

São Cipriano enviava muitas cartas aos mártires fortalecendo-os no combate até que chegou ao conhecimento do governador romano daquela região a fama de Cipriano e de Justina. Baseando-se no decreto do imperador Diocleciano, que perseguia os cristãos, ordenou que fossem presos, torturados e forçados a negar a Fé Cristã.



Diante do governador Justina foi chicoteada e Cipriano açoitado com pentes de ferro, mas não cederam. Irritado com esta resistência, o governador ordenou que Cipriano e Justina fossem lançados numa caldeira cheia de banha e cera ferventes. Eles não só não renunciaram à Fé, como sentiam muito frescor em vez de qualquer suplício.

O sacerdote dos ídolos supôs que as torturas não produziam resultado devido a algum feitiço lançado por Cipriano. Desafiando-o, ele invocou os demônios e atirou-se na caldeira. Em poucos segundos seu corpo foi destruído.

O governador então ordenou que Justina e Cipriano fossem decapitados. Vendo a morte desses inocentes mártires, um certo Theoctistus, que estava lá presente, sentindo muita pena deles e inflamando em seu coração para com Deus, caiu junto de São Cipriano, beijando-o, e declarou-se cristão. Também ele foi imediatamente condenado a ser decapitado.



Santa Justina e São Cipriano foram introduzidos por São Beda em seu Martirológio, e por meio dos martirológios históricos passaram para o Martirológio Romano, onde são comemorados no dia 26 de setembro. 


Ó Deus Onipotente e Eterno que por meio da Vossa serva Justina, com quem vou perder a vida temporal para alcançar a eterna, eu Vos peço humildemente perdão de todos os malefícios que cometi durante o tempo que o meu espírito esteve preocupado com o dragão infernal; em pagamento do sacrifício de minha vida, suplico-Vos que as minhas preces sejam ouvidas a favor de todos aqueles que de bom coração, Vos suplicarem a saúde do seu corpo e alma, recordando-Vos, Senhor, que com uma só palavra tiraste o maligno espírito daquele santo varão de que nos fala a Escritura, que ressuscitastes Lázaro, morto há três dias, que devolvestes a vista ao santo Tobias, cego por instigação de Satanás, que sois o soberano Dominador de vivos e mortos; compadecei-Vos, Senhor, de todos aqueles que sabeis serem Vossos por sua fé, esperança e boas obras, e Vos suplico que aqueles que estejam ligados com feitiços, bruxarias ou possuídos do espírito maligno, os desateis para que possam, com toda liberdade, Vos servir com tantas e boas obras e que os desenfeiticeis para que possam usar do seu arbítrio ao Vosso serviço; que os desembruxeis para que o lobo raivoso não possa dizer que tem domínio sobre alguma ovelha do Vosso rebanho, comprada a custo do Vosso preciosíssimo sangue derramado no monte do Gólgata; livrai-nos, Senhor Todo Poderoso, do anjo rebelde, para que, já livres do inimigo comum Vos louvemos, bendigamos, adoremos, exaltemos, santifiquemos e confessemos a Vós, ao Pai e ao Espírito Santo, com todo o coro de Anjos Patriarcas, Profetas, Santos, Santas, Virgens, Mártires; Confessores da Vossa santa glória. E Vos suplico, Senhor, que em nome de Santa Justina preserveis o Vosso servidor (citar o nome da pessoa) de todos os malefícios, perfídias, enganos e ardis de Lúcifer e de perseguir o Vosso santo nome que para sempre louvado seja; preservai a vista, o pensamento, as obras, os filhos, os bens, animais, semeaduras, árvores, comestíveis e bebidas, não permitindo que o Vosso servidor (citar o nome da pessoa) sofra nenhuma investida do demônio; antes, iluminai-o, dando-lhe a vista conveniente para ver e observar Vossas maravilhas na obra da Natureza; retificai o meu entendimento para que possa contemplar os Vossos favores e dirigir os negócios a um bom fim; desatai a minha língua para cantar os louvores da Vossa bondade, dizendo: Louvado sejais, Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, três pessoas em um só Deus, que tudo criou do nada; se tenho preguiça nas ações, dignai-Vos fazer que a preguiça de mim fuja para me poder empregar em ações da Vosso agrado; se má direção houver nos bens, filhos e demais dependentes deste Vosso servidor (citar o nome da pessoa), suplico-Vos, Senhor, a troqueis em boa para empregá-la em todo o Vosso santo serviço; e finalmente, aceitai, ouvi e concedei-me o que eu Vos vou pedir em paga do sacrifício que fizeram de suas vidas os Vossas mártires Cipriano e Justina, com as seguintes preces:

Senhor, tende piedade de mim.
Jesus Cristo, tende piedade de mim.
Senhor, ouvi-me.
Jesus Cristo, ouvi-me.
Deus Pai que estais no Céu, tende piedade de mim.
Deus Filho, redentor do mundo, tende piedade de mim.
Deus Espírito Santo, tende piedade de mim.
Santa Trindade, tende piedade de mim.
Todos os Santos Apóstolos, Evangelistas e Discípulos do Senhor, rogai por mim.
São Sebastião, S. Cosme e S. Damião. S. Roque, Santa Lúcia e S. Lourenço, rogai por mim.
Todos os Santos Sacerdotes, Levitas, Religiosos, Anacoretas, Virgens, Viúvas, Santos e Santas intercedei por mim.
De todo mal, livrai-me, Senhor.
De todo pecado, livrai-me, Senhor.
Da Vossa ira, livrai-me, Senhor.
De morte repentina, livrai-me, Senhor.
Dos laços do demônio, livrai-me, Senhor.
Da ira, ódio e má vontade, livrai-me, Senhor.
De relâmpagos, trovões e tempestades, livrai-me, Senhor.
De terremotos, livrai-me, Senhor.
Anjos do Céu, ouvi?me.
Prestai-me a Vossa ajuda.
Sem vós, o meu coração perde toda a sua força.
Fiquem cheios de confusão os que tentem contra a minha vida espiritual.
Eia, eia! Vão eles gritando. Logo cairás nos nossos laços, seguiremos os teus passos e neles acabarás caindo.
Mas os que amais, Senhor, e Vos honram dia e noite, é por isso que invocam o seu Libertador.
Deus clemente, Vós conheceis a minha miséria, a minha pobreza e a minha fraqueza; não me negueis o Vosso auxilio.
Sejais, Senhor, meu defensor na perseguição dos meus inimigos.
Fugi, amigos da minha desgraça; no meu Deus encontrei graças; fugi.
Que estes inimigos sejam confundidos e afastados, Senhor.
Que venham trovões e tempestades de más influências, para que se afastem da minha presença.
Sejam inúteis, Senhor, os passos dos meus inimigos.
Livrai-me de suas emboscadas, Senhor.
Concedei-me essa graça, Senhor.
Salvai, Senhor, o Vosso servo: eu Vos suplico pelo Vosso amor.
Senhor, ouvi a minha súplica e que o grito do meu coração chegue até vós, meu Deus.
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POLÊMICA


Atualmente são publicados diversos grimórios atribuídos a São Cipriano de Antioquia, que teriam sido escritos antes de sua conversão ao cristianismo, sendo denominados genericamente como "Livros de São Cipriano", contendo orações e rituais de magia negra e tratando de outras práticas relativas ao ocultismo.

Na verdade, deve-se observar que nas listas dos bispos de Antioquia não se encontram nem Optato, nem Antímio, nem Cipriano.

A narração da Conversão de São Cipriano tem na literatura antiga dois complementos, de índole grotesca, como são a "Confissão do Cipriano" e "Paixão do Cipriano". Tais narrações são, pelos historiadores modernos, unanimemente tidas como lendárias. Eis o seu conteúdo:

A "Confissão de Cipriano"

A "Confissão do Cipriano" é uma ampliação infeliz da "Conversão". Nosso relato Cipriano toma a palavra para explicar seu relacionamento com o domínio, as feitiçarias e os encantamentos que praticava. O autor da narração acumula as histórias de artes mágicas e às vezes cai no ridículo; assim, por exemplo, refere que Aglaides tomou a forma de um pássaro que se colocou sobre um telhado a fim de espreitar Justina; todavia, logo que conseguiu ver a moça, perdeu a qualidade de pássaro (que ele adquirira por feitiçaria); retomou a sua condição de homem e experimentou muita dificuldade para descer do telhado.

A "Paixão de Cipriano"

Esta narração responde a necessidade de terminar os relatos anteriores. o autor recorreu a traços comuns de narrações anteriores. Refere, por exemplo, que Cipriano e Justina foram presos por ordem do Conde Eutólmio e levados para Damasco. Após um interrogatório, Cipriano foi dilacerado por unhas do ferro, enquanto Justina era chicoteada ferozmente. Contudo permaneceram insensíveis. Levados de novo ao tribunal, foram condenados a morrer numa caldeira de óleo fervente; este, porém, se tornou para eles ocasião de um banho reconfortador; ao verificá-lo, um sacerdote pagão acusou-os de magia e aproximou-se do fogo da caldeira, que imediatamente o devorou. Finalmente o juiz teria enviado os dois mártires para Nicomédia, onde residia o Imperador Dioclociano. Este mandou que fossem decapitados; o carrasco executou a sentença juntando a Cipriano e Justina um certo Teoctisto, que passava por perto. Os seus cadáveres foram expostos às feras, que os deixaram intactos. Seis dias depois, marinheiros cristãos levaram os corpos para Roma,[3]onde uma certa Rufina lhes deu honrosa sepultura.

Cipriano de Antioquia (mago) 
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São Cipriano de Cartago

Muito contribuiu para dar valor à estória em pauta a confusão feita do Cipriano mago com São Cipriano, bispo do Cartago, caro à Igreja antiga. Houve relatos, hoje perdidos, que tentavam fundir a "vida de Cipriano mago" com a história real de São Cipriano de Cartago, como se este tivesse sido feiticeiro. São Gregório, bispo do Nazianzo, na Ásia Menor, proferiu um sermão em 379, no qual se servia das narrações espúrias relativas a São Cipriano, bispo do Cartago e mago; pouco depois, o poeta latino Prudêncio se deixou levar pela mesma ilusão.

Aos poucos o crédito dado a essas versões todas fez que os nomes de Cipriano e Justina constassem dos Martirológios antigos a partir do século IV. A contar dessa época foram também aparecendo "Preces do Cipriano", utilizadas como fórmulas quase mágicas; deste núcleo fez-se aos poucos o "Livro Poderoso do S. Cipriano mago", que nada tem que ver com dados históricos nem com a fé católica. Se algum efeito extraordinário ocorre por ocasião da leitura do "Livro Poderoso de S. Cipriano", isto se deve unica¬mente ao poder da sugestão; quem acredita que tal Livro produz efeitos portentosos, predispõe-se a "vê-los", "experimentá-los" ou mesmo "produzi-los"...

Em conclusão:

1) distinga-se de São Cipriano, bispo do Cartago (*258), grande escritor cristão,  famoso orador, bispo e santo cristão cartaginês o lendário personagem dito S. Cipriano mago;

2) a magia e a feitiçaria não se coadunam com a mensagem cristã, que recorre à oração em atitude humilde e confiante, sem fórmulas ou receitas "todo-poderosas".

A propósito ver "Vie dus Saints et Bienheureux" par les RR. PP. Bénédictins de Paris, tome IX, Septembre, pp. 327-338 e 529-534. 



[1]  Negada a historicidade dos relatos, pergunta-se: por que e como tiveram origem? Tais narrações retomam dois temas caros aos antigos cristãos: o do feiticeiro que vende a sua alma ao diabo, mas se converte, e o da virgem que triunfa do homem que a quer seduzir. Os antigos se compraziam em ouvir ou ler relatos desse tipo; daí a confecção da estória de Cipriano mago convertido, e Justina. virgem vitoriosa. Essa estima da temática fez que a lenda encontrasse logo grande aceitação, de mais a mais que utilizava nomes famosos (misturados anacronicamente num só relato): Optato era um bispo do Norte da África, citado nas Atas das Santas Mártires Perpétuas e Felicidade; Antímio era um bispo mártir da Nicomédia; Cipriano foi um grande bispa do Cartago (anterior aos outros bispos citados); Edésio foi um filósofo. Todos esses personagens eram famosos em Antioquia no século IV (época em que se julga tenha tido origem a "Conversão do Cipriano"). Também Justa e Justina eram nomes assaz difundidos na antiguidade. Os outros nomes dos relatos encontram-se todos em obras da literatura dos primeiros séculos.

[2] Na Igreja antiga, os catecúmenos eram as pessoas que se preparavam para o Batismo, só lhes era lícito participar da Liturgia da Palavra. - 0 relato apresenta aqui certa incoerência, pois no Sábado Santo é que se costumava ministrar o Batismo aos catecúmenos.

[3] O culto dos mártires sempre esteve ligado aos túmulos respectivos. Ora não se conhece na antiguidade ou na arqueologia e sepulcro do S. Cipriano, virgem e mártir. O autor da "Paixão de Cipriano", para fugir à objeção de que não há sepultura de S. Cipriano em Antioquia, imaginou que o corpo de herói tenha sido trasladado para Roma; todavia em Roma não se conhecia o túmulo de S. Cipriano na antiguidade. Somente na Idade Média julgaram os cristãos ter encontrado as relíquias de Cipriano e Justina em Roma, perto do Batistério de Latrão; foi então que a festa dos dois "mártires" foi introduzida na Liturgia de Roma.