Alegre-se o justo no Senhor e n’Ele espere, congratulem-se os homens de coração recto. Isto é o que cantamos com a boca e o coração. São palavras que a consciência e a língua cristãs dirigem a Deus: Alegre-se o justo, não no mundo, mas no Senhor. A luz resplandece para os justos – diz outro salmo – e a alegria para os corações rectos. Talvez perguntes donde vem esta alegria. Num salmo ouves: Alegre-se o justo no Senhor. E noutro: Põe no Senhor as tuas delícias e Ele satisfará os anseios do teu coração.
Que é que se nos declara? Que se recomenda? Que se manda? Que se dá? Que nos alegremos no Senhor. E quem se alegra naquilo que não vê? Ou será que vemos o Senhor? Isso é ainda uma promessa. Agora caminhamos à luz da fé; enquanto habitamos neste corpo, vivemos como exilados, longe do Senhor. Caminhamos à luz da fé e não da visão clara. Quando chegaremos à visão clara? Quando se cumprir o que diz São João: Caríssimos, agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos como Ele é.
Então será a alegria plena e perfeita, a felicidade completa, quando já não tivermos por alimento o leite da esperança, mas o alimento sólido da realidade. Todavia, também agora, antes de chegarmos a essa ventura, antes de essa ventura chegar até nós, alegremo-nos no Senhor. Porque não é pequena a alegria da esperança que nos garante a futura realidade.
Agora amamos em esperança. Por isso diz a Escritura: Alegre-se o justo no Senhor. Mas porque o justo ainda não vê, acrescenta em seguida o texto sagrado: E n’Ele espere.
De fato, temos já as primícias do Espírito, que nos aproximam d’Aquele que amamos e nos permitem saborear de antemão, embora tenuemente, o que mais tarde havemos de comer e beber com satisfação plena.
E como é possível alegrar-nos no Senhor, se Ele está longe de nós? Mas não deve estar longe! És tu que O fazes estar lonXXXge. Ama-O, e Ele aproximar-se-á de ti; ama-O e Ele habitará em ti. O Senhor está próximo; não vos inquieteis com coisa alguma. Queres ver como está contigo, se O amares? Deus é caridade.
Dir-me-ás: «Sabes o que é a caridade?». A caridade é aquilo com que amamos. E que amamos? O bem inefável, o Bem benéfico, o Bem criador de todos os bens. Põe n’Ele as tuas delícias, pois d’Ele recebeste tudo o que te deleita. Não me refiro ao pecado, porque o pecado é a única coisa que não recebeste d’Ele. Excetuando o pecado, foi d’Ele que recebeste tudo o que tens.
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 21, 1-4; CCL 41, 276-278) (Sec. V)
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