quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Santo Elói (Elígio)


Elói nasceu na França, no ano de 588. Filho de modestos camponeses, recebeu como herança uma esmerada educação cristã e a possibilidade de se formar como ourives, profissão que desempenhou com muita habilidade. 

Seu gênio era calmo e vivia praticamente como monge. Fugia das diversões e o dinheiro que ganhava usava para ajudar pobres e abandonados. Sua fama chegou aos ouvidos do rei Clotário em Paris que o convidou a fazer um trono de ouro. Com o metal deixado pelo rei, Elói fez dois tronos, aproveitando muito bem o material. Confiando na honestidade de Elói,o rei o contratou para cuidar do tesouro real. 

Nesta época, Elói realizou outras obras de artes religiosas, como o túmulo de São Martinho de Tours e o mausoléu de São Donísio. Todo o dinheiro arrecado era usado para revitalizar mosteiros e obras de misericórdia. 

Em 639 ingressou para a vida religiosa e dois anos depois era consagrado Bispo de Noyon, na região de Flandres. Foi uma existência totalmente empenhada na campanha do norte da França, Holanda e Alemanha. 

Morreu no dia 01 de dezembro de 660, na Holanda, durante uma missão evangelizadora. Santo Elói é padroeiro dos joalheiros e ourives.

Elói evitou o luxo e viveu na pobreza e na piedade. Foi um incansável exemplo de humildade, caridade e mortificação. As pregações de Elói e suas visitas as paróquias de sua diocese foram fatores essenciais para a conversão do povo. A honestidade na vida profissional fez dele uma pessoa conhecida e querida pelo povo e pelas autoridades da época.
  


Senhor, por intercessão de Santo Elói, concedei-me ser atencioso e justo para com os mais humildes. Dai-me disponibilidade e empenho para que eu possa proporcionar, com os talentos que me destes, uma vida mais digna aos que me rodeiam. Santo Eloi, rogai por nós.

Encontramos o Messias


André, tendo permanecido com Jesus e aprendido com ele muitas coisas, não escondeu o tesouro só para si mas correu depressa à procura de seu irmão, para fazê-lo participar da sua descoberta. Repara o que lhe disse: Encontramos o Messias (que quer dizer Cristo) (Jo 1,41). Vede como logo revela o que aprendera em pouco tempo! Demonstra assim o valor do Mestre que o persuadira, bem como a aplicação e o zelo daqueles que, desde o princípio, já estavam atentos. Esta expressão, com efeito, é de quem deseja intensamente a sua vinda, espera aquele que deveria vir do céu, exulta de alegria quando ele se manifestou, e se apresa em comunicar aos outros a grande notícia.

Repara também a docilidade e a prontidão de espírito de Pedro. Acorre imediatamente. E conduziu-o a Jesus (Jo 1,42), afirma o Evangelho. Mas ninguém condene a facilidade com que, não sem muita reflexão, aceitou a notícia. É provável que o irmão lhe tenha falado pormenorizadamente mais coisas. Na verdade, os evangelistas sempre narram muitas coisas resumidamente, por razões de brevidade. Aliás, não afirma que acreditou logo, mas: E conduziu-o a Jesus (Jo 1,42), e a ele o confiou para que aprendesse com Jesus todas as coisas.Estava ali, também, outro discípulo que viera com os mesmos sentimentos.

Se João Batista, quando afirma: Eis o Cordeiro e batiza no Espírito Santo (cf. Jo 1,29.33), deixou mais clara, sobre esta questão, a doutrina que seria dada pelo Cristo, muito mais fez André. Pois, não se julgando capaz de explicar tudo, conduziu o irmão à própria fonte da luz, tão contente e pressuroso, que não duvidou sequer um momento.




Das Homilias sobre o Evangelho de João, de São João Crisóstomo, bispo (Hom. 19,1: PG 59,120-121)             (Séc.IV)

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Santo André, Apóstolo


Hoje a Igreja está em festa, pois celebramos a vida de um escolhido do Senhor para pertencer ao número dos Apóstolos.

Santo André nasceu em Betsaida, no tempo de Jesus, e de início foi discípulo de João Batista até que aproximou-se do Cordeiro de Deus e com São João, começou a segui-lo, por isso André é reconhecido pela Liturgia como o “protocleto”, ou seja, o primeiro chamado: “Primeiro a escutar o apelo, ao Mestre, Pedro conduzes; possamos ao céu chegar, guiados por tuas luzes!”

Santo André se expressa no Evangelho como “ponte do Salvador”, porque é ele que se colocou entre seu irmão Simão Pedro e Jesus; entre o menino do milagre da multiplicação dos pães e Cristo; e, por fim, entre os gentios (gregos) e Jesus Cristo.

Aparece no episódio da multiplicação dos pães, onde depois da resposta de Felipe, André indica a Jesus um jovem que possuía os únicos alimentos ali presentes: cinco pães e dois peixes (Jo 6,8-9). 

André participou da vida pública de Jesus, estava presente na Última Ceia, viu o Cristo Ressussitado, testemunhou a Ascenção e estava presente em Pentecostes. 

Conta-nos a Tradição que depois de receber a Efusão do Espírito Santo em Pentecostes, Santo André teria ido pregar o Evangelho na região dos mares Cáspio e Negro.

Apóstolo da coragem e alegria, Santo André foi fundador das igrejas na Acaia, onde testemunhou Jesus com o seu próprio sangue, já que foi martirizado numa cruz em forma de X, a qual recebeu do santo este elogio:“Salve Santa Cruz, tão desejada, tão amada. Tira-me do meio dos homens e entrega-me ao meu Mestre e Senhor, para que eu de ti receba o que por ti me salvou!”.


Ficou dois dias pregado numa cruz em forma de "X". Conta a tradição que, um pouco antes de André morrer, foi possível ver uma grande luz envolvendo-o e apagando-se a seguir. Tudo ocorreu sob o império de Nero, em 30 de novembro do ano 60, data que toda a cristandade guarda para sua festa.

Ó Deus, que a vossa Igreja exulte sempre no constante louvor do Apóstolo Santo André, para que, sustentada por sua doutrina e intercessão, seja fiel a seus ensinamentos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.


Santo André Apóstolo, rogai por nós!

O admirável intercâmbio


O Filho de Deus, Aquele que existe desde toda a eternidade, Aquele que é invisível, incompreensível, incorpóreo, o Princípio que procede do Princípio, a Luz que nasce da Luz, a fonte da vida e da imortalidade, Aquele que é a expressão fiel do arquétipo divino, o selo inamovível, a imagem perfeitíssima, a palavra e o pensamento do Pai, é o mesmo que vem em ajuda da criatura feita à sua imagem e por amor do homem Se faz homem. Assume um corpo para salvar o corpo e une-Se a uma alma racional por amor da minha alma. Para purificar aqueles a quem Se tornou semelhante, fez-Se homem em tudo, exceto no pecado. Foi concebido no seio de uma Virgem, já santificada pelo Espírito no corpo e na alma, para honrar a maternidade e ao mesmo tempo exaltar a excelência da virgindade; e assumindo a humanidade sem deixar de ser Deus, uniu em Si mesmo duas realidades entre si contrárias, a saber, a carne e o espírito. Uma delas conferiu a divindade, a outra recebeu-a.

Aquele que enriquece os outros faz-Se pobre. Aceita a pobreza da minha condição humana, para que eu possa receber as riquezas da sua divindade. Aquele que possui tudo em plenitude, aniquila-Se a Si mesmo; priva-Se por algum tempo da sua glória, para que eu possa participar da sua plenitude.

Porquê tantas riquezas de bondade? Que significa para nós este mistério? Eu recebi a imagem divina, mas não soube conservá-la; agora Ele assume a minha condição humana, para restaurar a perfeição daquela imagem e dar imortalidade a esta minha condição mortal. Deste modo estabelece conosco uma segunda aliança muito mais admirável que a primeira.

Convinha que o homem fosse santificado mediante a natureza assumida por Deus. Convinha que Ele triunfasse desse modo sobre o tirano que nos subjugava, para nos restituir a liberdade e reconduzir-nos a Si pela mediação de seu Filho; e Cristo realizou, de fato, esta obra redentora para glória de seu Pai, que era o objetivo de todas as suas ações.

O bom Pastor veio ao encontro da ovelha perdida, procurou-a pelos montes e colinas onde tu sacrificavas aos ídolos; e quando encontrou a ovelha perdida, tomou-a sobre os seus ombros - os mesmos ombros que carregaram com a cruz - e reconduziu-a à vida eterna.

Depois daquela tênue luz do Precursor, veio a Luz claríssima de Cristo; depois da voz, veio a Palavra; depois do amigo do esposo, veio o Esposo. O Senhor veio depois daquele que para Ele preparou um povo escolhido, predispondo os homens, por meio da água purificadora, para receberem o batismo do Espírito. 

Foi necessário que Deus Se fizesse homem e morresse, para que tivéssemos a vida. Morremos com Ele para sermos purificados. Ressuscitamos com Ele, porque com Ele morremos. Fomos glorificados com Ele, porque com Ele ressuscitamos.


Dos Sermões de São Gregório de Nazianzo, bispo

(Or 45, 9, 22. 26.28: PG 36, 634-635. 654. 658-659. 662) (Sec. IV)

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

São Saturnino de Toulouse


Santo Saturnino é uma das devoções mais populares na França e na Espanha. Sua vida pode ser confirmada em importantes documentos sobre a vida cristã na região da Gália, datados do ano 450. Esses documentos apontam Saturnino como primeiro Bispo de Toulouse. 

Esta região era marcada pela existência de algumas comunidades cristãs que resistiam ao paganismo. As freqüentes brigas fazia com que o número de fiéis diminuíssem a cada dia. A chegada de Saturnino deu novo ânimo a vida destas comunidades católicas. 

O missionário pregava com fervor, convertendo quase todos os habitantes ao cristianismo. Seu nome foi tão conhecido que logo consagrou-se bispo da região. Embora houvesse um decreto do imperador proibindo e punindo com a morte quem participasse de missas, Saturnino continuou com o Santo Sacrifício da missa, a comunhão e a leitura do evangelho. 

Assim, ele e outros quarenta e oito cristãos acabaram descobertos reunidos e celebrando a missa num domingo. Foram presos e julgados. Como não quis ceder aos apelos dos pagãos, Saturnino foi amarrado pelos pés ao pescoço de um touro bravo e arrastado pelas ruas da cidade. 

São Saturnino, com os membros despedaçados, morreu pouco depois e seu corpo foi abandonado no meio da estrada, recolhido por duas piedosas mulheres, dando-lhe sepultura em uma fossa muito profunda.



Deus de amor, que no exemplo dos mártires santifica a Igreja e a torna testemunha fiel da paixão, morte e ressurreição de Jesus, dignai-vos proteger nossos projetos missionários e fazei de nós verdadeiros apóstolos da paz e da fraternidade. Por Cristo nosso Senhor. Amém.

O tempo do Advento


Eis chegado, irmãos caríssimos, o tempo tão celebrado e solene, o tempo favorável, como diz o Espírito Santo, os dias da salvação, da paz e da reconciliação. É o tempo que outrora os Patriarcas e Profetas tão ardentemente desejaram com seus votos e suspiros; o tempo que o justo Simeão finalmente pôde ver cheio de alegria, que a Igreja sempre tem celebrado solenemente, e que também nós devemos santificar em todo o momento com fervor, dando graças e louvores ao Pai eterno pela infinita misericórdia que nos revelou neste mistério: Ele enviou-nos seu Filho Unigênito, pelo imenso amor que tem aos homens, pecadores, para nos livrar da tirania e do império do demônio, convidar-nos para o Céu, revelar-nos os mistérios do seu reino celeste, mostrar-nos a luz da verdade, ensinar-nos o caminho da perfeição, comunicar-nos o gérmen das virtudes, enriquecer-nos com os tesouros da sua graça e, enfim, adotar-nos como filhos seus e herdeiros da vida eterna.

Ao celebrar todos os anos este mistério, a Igreja convida-nos a renovar perpetuamente a memória do amor infinito que Deus mostrou para conosco; e ao mesmo tempo nos ensina que o advento de Cristo não foi apenas para os seus contemporâneos, mas que a sua eficácia nos é comunicada a todos nós, se quisermos receber, mediante a fé e os sacramentos, a graça que nos mereceu, e orientar de acordo com ela os costumes da nossa vida segundo os seus mandamentos.

Além disso, a Igreja espera fazer-nos compreender que assim como Ele veio uma vez, revestido da nossa carne, a este mundo, também está disposto, se não oferecermos resistência, a vir de novo, em qualquer hora e momento, para habitar espiritualmente em nossas almas com abundantes graças.

Por isso, a Igreja, como Mãe piedosa e solícita pela nossa salvação, ensina-nos durante este tempo, com diversas celebrações, com hinos, cânticos e outras vozes do Espírito Santo, a receber convenientemente e de coração agradecido este benefício tão grande e a enriquecer‑nos com o seu fruto, de modo que o nosso espírito se disponha para a vinda de Cristo nosso Senhor, com tanta solicitude como se Ele estivesse para vir novamente ao mundo e com a mesma diligência e esperança com que os Patriarcas do Antigo Testamento nos ensinaram, tanto em palavras como em exemplos, a preparar a sua vinda.


Das Cartas Pastorais de São Carlos Borromeu, bispo

(Acta Ecclesiae Mediolanensis, t. 2, Lugduni, 1683, 916-917) (Sec. XVI)

domingo, 27 de novembro de 2016

São Tiago das Marcas


O santo de hoje morreu dizendo “Jesus, Maria, bendita Paixão de Jesus”, isto porque sua vida toda foi dedicada para a causa do Evangelho. Tiago da Marca nasceu no ano 1391 numa aldeia da Marca de Ancona, Itália. Recebeu no Batismo o nome de Domingos. Tendo morrido seu pai e sua mãe, ficou aos cuidados de um homem rico que o encaminhou para trabalhos administrativos. Desta forma, São Tiago conheceu a iniquidade do mundo, tomando a decisão de se retirar para um convento.

Quando despertou para a vocação à vida Consagrada, São Tiago pensou em entrar para os Cartuxos, mas ao viajar para Babiena, na Toscana, ficou tão edificado com os diálogos que travou com os franciscanos, que resolveu entrar para a Família de São Francisco de Assis. Recebeu o hábito, tomando o nome de Tiago, no Convento de Nossa Senhora dos Anjos, perto de Assis, onde, pouco tempo depois, fez profissão.

Dormia apenas três horas por noite; e passava o restante da noite na meditação das coisas celestes. Nunca comia carne, jejuava inviolavelmente as sete quaresmas de S. Francisco. Todos os dias se disciplinava com rigor. A única pena que sentia era não poder dedicar-se à pregação, único emprego que desejava na sua Ordem. Para conseguir o que tanto desejava, foi a Nossa Senhora do Loreto, celebrou a Santa Missa e, depois da consagração, a Santíssima Virgem apareceu-lhe a dizer que a sua oração tinha sido ouvida.

Começou a pregar com tanto fervor que nunca subia ao púlpito sem tocar os corações mais endurecidos, fazendo muitas conversões miraculosas. Foi associado a São João Capistrano para pregar a Cruzada contra os turcos que, tendo-se apoderado de Constantinopla, enchiam de terror toda a cristandade. Foi tal o seu zelo por esta ocasião que se lhe pode atribuir em grande parte o sucesso desta gloriosa empreitada.

Como sacerdote dedicou-se nas pregações populares onde, de modo simples, vivo e eficaz, evangelizava e espalhava a Sã Doutrina Católica em diversas regiões da Europa. São Tiago anunciava, mas também denunciava toda opressão social, pois os negociantes e mercadores tiranizavam o povo com empréstimos de juros sem fim, por causa disso o santo fundou os bancos populares que emprestavam com juros mínimos. Por fim, São Tiago se instalou em Nápoles onde teve a revelação que aí terminaria seus dias, como de fato aconteceu a 28 de novembro de 1476, isto depois de ser atingido por uma doença mortal. Foi canonizado em 1726 pelo Papa Bento XIII.



Ó Deus, fizestes de São Tiago das Marcas um grande arauto do Evangelho, para salvação das almas e para chamar os pecadores de volta ao caminho das virtudes; concedei que, por sua intercessão, purificados de todo pecado, alcancemos a vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. São Tiago da Marca, rogai por nós!

Os dois adventos de Cristo


Anunciamos o advento de Cristo. Não, porém, um só, mas também o segundo, muito mais glorioso que o primeiro. Aquele revestiu um aspecto de sofrimento; este trará consigo o diadema do reino divino.

Sucede que quase todas as coisas são duplas em Nosso Senhor Jesus Cristo. Duplo é seu nascimento: um, de Deus, desde toda a eternidade; outro, da Virgem, na plenitude dos tempos. Dupla também é a sua descida: a primeira, na obscuridade e silenciosamente, como a chuva sobre a relva; a outra, no esplendor da sua glória, que se realizará no futuro.

No seu primeiro advento, foi envolvido em faixas e deitado num presépio; no segundo, será revestido com um manto de luz. No primeiro suportou a cruz, sem recusar a sua ignomínia; no segundo, aparecerá glorioso, escoltado pela multidão dos Anjos.

Não nos detemos, portanto, a meditar só no primeiro advento, mas vivemos na esperança do segundo. Assim como aclamamos no primeiro: Bendito o que vem em nome do Senhor, exclamaremos também no segundo, saindo ao encontro do Senhor juntamente com os Anjos, em atitude de adoração: Bendito o que vem em nome do Senhor.

Virá o Salvador, não para ser novamente julgado, mas para chamar a juízo aqueles que O julgaram. Ele que, ao ser julgado, guardou silêncio, lembrará as atrocidades dos malfeitores, que O levaram ao suplício da cruz, e lhes dirá: Tudo isto fizestes e Eu calei-me.

Naquele tempo veio para cumprir o desígnio de amor misericordioso, ensinando e persuadindo os homens com suavidade; no fim dos tempos, queiram ou não, todos se hão de submeter ao seu reinado.

De ambos os adventos fala o profeta Malaquias: Depressa virá ao seu templo o Senhor a quem buscais. Isto quanto ao primeiro advento.

A respeito do segundo diz assim: E o Anjo da aliança por quem suspirais. Eis que vem o Senhor Onipotente. Quem poderá suportar o dia da sua vinda? Quem poderá resistir quando Ele aparecer? Porque Ele virá como o fogo do fundidor, como a barrela dos lavandeiros. E sentar-se-á para fundir e purificar.

Escrevendo a Tito, também Paulo se refere aos dois adventos com estas palavras: Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens, ensinando-nos a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, e a viver no mundo presente com toda a sobriedade, justiça e piedade, aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. Vê como falou do primeiro advento, pelo qual dá graças a Deus, e do segundo, que esperamos.

Por esse motivo, afirmamos na nossa profissão de fé, tal como a recebemos por tradição, que acreditamos n’Aquele que subiu aos Céus e está sentado à direita do Pai e que há de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim.

Virá, portanto, do alto dos Céus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Virá no fim deste mundo, em sua glória, no último dia. Será então o fim deste mundo criado e o início de um mundo novo.


Das Catequeses de São Cirilo de Jerusalém, bispo

(Cat. 15, 1-3: PG 33, 870-874) (Sec. IV)

sábado, 26 de novembro de 2016

São Virgílio


Nasceu na primeira década do século oitavo e foi batizado com o nome católico de Virgílio. Sentiu-se atraindo pela vida monástica e tornou-se monge na Irlanda. Mas em 743 deixou a ilha para evangelizar o continente e não voltou para sua terra natal. 

Residiu no reino dos francos na época do imperador Pepino, o breve. Mas logo foi cogitado para morar em Salisburgo, no território austríaco. Nesta diocese foi escolhido para ser bispo. 

Mas por causa de divergências políticas e doutrinais com Bonifácio, o grande evangelizador da Alemanha, que não aceitou o processo de escolha de Virgílio para o episcopado, o monge irlandês precisou esperar a morte de Bonifácio para poder ocupar a cadeira em Salisburgo. Não era a pessoa de Vírgilio que desagradava Bonifácio, mas o fato da escolha dele ter sido pelos poderes políticos. 

Virgílio era homem de fé fortalecida e de vasta cultura, dominava como poucos as ciências matemáticas. Abraçou integralmente o seu apostolado a serviço do Reino de Deus. Revolucionou a diocese de Salisburgo com o seu testemunho e converteu esse rebanho para a Redenção de Cristo. 

Morreu e foi sepultado na abadia de Salisburgo, em 27 de novembro de 784, na Áustria, em meio à forte comoção dos fiéis, que transformaram essa data a de sua tradicional festa. 



Pai de bondade, pela inspiração de São Vírgilio, aumentai em nós o zelo missionário e infundi em nós o Espírito Santo, para que todas as nossas palavras seja para a glória do vosso nome. Por Cristo nosso Senhor. Amém.

Nossa Senhora das Graças


Em uma tarde de sábado, no dia 27 de novembro de 1830, na capela das Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, Santa Catarina Labouré teve uma visão de Nossa Senhora. A Virgem Santíssima estava de pé sobre um globo, segurando com as duas mãos outro globo menor, sobre o qual aparecia uma cruzinha de ouro. Dos dedos das suas mãos, que de repente encheram-se de anéis com pedras preciosas, partiam raios luminosos em todas as direções e, num gesto de súplica, Nossa Senhora oferecia o globo ao Senhor.    

Santa Catarina Labouré relatou assim sua visão: "A Virgem Santíssima baixou para mim os olhos e me disse no íntimo de meu coração: 'Este globo que vês representa o mundo inteiro (...) e cada pessoa em particular. Eis o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que as pedem. ' Desapareceu, então, o globo que tinha nas mãos e, como se estas não pudessem já com o peso das graças, inclinaram-se para a terra em atitude amorosa. ...Formou-se em volta da Santíssima Virgem um quadro oval, no qual em letras de ouro se liam estas palavras que cercavam a mesma Senhora: Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós. Ouvi, então, uma voz que me dizia: 'Faça cunhar uma medalha por este modelo; todas as pessoas que a trouxerem receberão grandes graças, sobretudo se a trouxerem no pescoço; as graças serão abundantes, especialmente para aqueles que a usarem com confiança. ' “Nossa Senhora da Medalha Milagrosa é a mesma Nossa Senhora das Graças", por ter Santa Catarina Labouré ouvido, no princípio da visão, as palavras: "Estes raios são o símbolo das Graças que Maria Santíssima alcança para os homens."



Ó Imaculada Virgem Mãe de Deus e nossa Mãe, ao contemplar-vos de braços abertos derramando graças sobre os que vo-las pedem, cheios de confiança na vossa poderosa intercessão, inúmeras vezes manifestada pela Medalha Milagrosa, embora reconhecendo a nossa indignidade por causa de nossas inúmeras culpas, acercamo-nos de vossos pés para vos expor, durante esta oração, as nossas mais prementes necessidades. Concedei, pois, ó Virgem da Medalha Milagrosa, este favor que confiantes vos solicitamos, para maior Glória de Deus, engrandecimento do vosso nome, e o bem de nossas almas. E para melhor servirmos ao vosso Divino Filho, inspirai-nos profundo ódio ao pecado e dai-nos coragem de nos afirmar sempre como verdadeiros cristãos.  Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós. Amém.

Cantemos Aleluia ao bom Deus que nos livra de todo o mal


Cantemos Aleluia, ainda inseguros na terra, para podermos cantá-lo um dia em plena segurança no Céu. Mas porque estamos ainda inseguros? Não queres que me sinta inseguro, quando leio: Porventura não é uma tentação a vida do homem sobre a terra? Não queres que me sinta inseguro, quando me dizem: Vigiai e orai para não cairdes em tentação? Não queres que me sinta inseguro, onde as tentações são tão frequentes que a própria oração nos obriga a repetir: Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido? Todos os dias pedimos perdão e todos os dias cometemos ofensas. Queres que me sinta seguro na terra, onde todos os dias peço perdão dos pecados e proteção dos perigos? Depois de ter dito, por causa dos pecados passados: Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, acrescenta imediatamente, por causa dos perigos futuros: Não nos deixeis cair em tentação. Como pode sentir-se bem o povo que clama juntamente comigo:Livrai-nos do mal? E contudo, irmãos, mesmo no meio destes males, cantemos Aleluia ao bom Deus que nos livra do mal. 

Também aqui, rodeados de perigos e tentações, cantemos todos Aleluia. Deus é fiel – diz o Apóstolo – e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças. Por isso cantemos Aleluia cá na terra. O homem é ainda pecador, mas Deus é fiel. Não diz: «Não permitirá que sejais tentados»; mas: Não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças. Mas no tempo da tentação, dar-vos-á também o meio de sair dela, ajudando-vos a suportá-la. Entraste em tentação? Deus fará com que saias dela são e salvo; como o vaso do oleiro, vais sendo modelado pela pregação e cozido no fogo da tribulação. Mas quando entras na tentação, confia que hás de sair dela, porque Deus é fiel: O Senhor guardará as tuas entradas e as tuas saídas. 

Quando este nosso corpo se tornar imortal e incorruptível, acabará toda a tentação, porque o corpo está morto. Está morto, porquê? Por causa do pecado. Mas o espírito é vida; porquê? Por causa da justiça. Abandonamos então o corpo morto? Não. Escuta [o Apóstolo]: Se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais. Agora, o nosso corpo é animal; depois, será espiritual. 

Oh ditoso Aleluia do Céu, plenamente seguro, livre de toda a adversidade! Ali não haverá nenhum inimigo, nem se perderá nenhum amigo. Ressoam os louvores de Deus no Céu; ressoam os louvores de Deus na terra. Mas aqui são cantados por homens inseguros; lá, em plena segurança. Aqui, pelos que hão de morrer; lá, pelos que já são imortais. Aqui, pelos que vivem na esperança; lá, pelos que já possuem a realidade. Aqui, pelos que são ainda peregrinos; lá, pelos que já chegaram à pátria. 

Cantemos agora, meus irmãos, não para gozar o repouso, mas para aliviar a fadiga. Como costumam cantar os caminhantes: canta, mas caminha; cantando, alivia a fadiga, mas não te dês à preguiça; canta e caminha. Que quer dizer: «Caminha»?. Avança, progride no bem. Há alguns, como diz o Apóstolo, que progridem no mal. Tu, se progrides, caminhas. Mas progride no bem, progride na verdadeira fé, progride na vida santa. Canta e caminha.


Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 256, 1.2.3: PL 38, 1191-1193) (Sec. V)

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

São Leonardo de Porto Maurício


Paulo nasceu no ano 1676, em Porto Maurício, na Itália. Filho de um capitão da marinha, o menino ficou órfão muito pequeno. Foi então levado à Roma para concluir os estudos no Colégio Romano. Depois foi para o Retiro de São Boaventura onde entrou para a Ordem franciscana e vestiu o hábito tomando o nome de Frei Leonardo. 

Passou grande parte da vida em Florença. Era um empolgante pregador, destacando sobretudo na explicação da Paixão de Cristo. Santo Afonso de Ligório, seu contemporâneo, dizia que ele era o maior missionário daquele século. 

Também é considerado o salvador do Coliseu, ao promover pela primeira vez a liturgia da Via-Sacra, naquele local que definiu como santificado, pelos martírios dos cristãos. Este gesto evitou a total ruína daquele monumento. A celebração da Via-Sacra em seu interior se tornou tradição e a histórica construção passou a ser preservada. A tradição permanece, pois até hoje o próprio pontífice, toda Sexta-feira da Paixão, faz a Via-Sacra no Coliseu, em Roma. 

Morreu em 1751 no seu querido Retiro de São Boaventura, em Roma.



Ó Deus todo-poderoso e cheio de bondade, que fizestes de São Leonardo notável mensageiro do mistério da cruz, concedei, por sua intercessão, que, reconhecendo na terra as riquezas da cruz de Cristo, mereçamos alcançar nos céus os frutos da redenção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Superemos o pavor da morte com o pensamento da imortalidade


É necessário ter presente que não é a nossa vontade que devemos fazer mas a de Deus, como o Senhor nos ensinou a rezar todos os dias. Que contrassenso pedirmos que se faça a vontade de Deus, e depois, quando Ele nos chama e nos convida a sair deste mundo, não obedecermos prontamente à sua vontade! Resistimos e lutamos, e somos levados à presença do Senhor como servos rebeldes, com mágoa e tristeza, partindo deste mundo, não de bom grado, mas forçados por uma lei inevitável. E ainda pretendemos que nos honre com prêmios celestes Aquele para quem vamos de tão má vontade! Então porque rogamos e pedimos que venha a nós o reino dos Céus, se continuamos agarrados à prisão da terra? Porque é que pedimos e imploramos tão insistentemente que se apresse o tempo do reino, se o nosso desejo de servir o diabo neste mundo supera o desejo de reinar com Cristo?

Se o mundo odeia o cristão, porque amas aquele que te odeia e não segues antes a Cristo que te redimiu e te ama? João, na sua epístola, clama e exorta a não amarmos o mundo, seguindo os desejos da carne: Não ameis o mundo nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. Porque tudo o que há no mundo – concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida – não vem do Pai mas do mundo. Ora o mundo passa com as suas concupiscências, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece eternamente. Ao contrário, irmãos caríssimos, com espírito sincero, fé inabalável e ânimo forte, estejamos prontos a cumprir a vontade de Deus em tudo. Superemos o pavor da morte com o pensamento da imortalidade que nos espera. Mostremos na prática esta fé que professamos. 

Devemos considerar, irmãos caríssimos, e meditar frequentemente que renunciamos ao mundo e que, entretanto, andamos na terra como hóspedes e peregrinos. Acolhamos com júbilo o dia em que a cada um de nós se indicará a sua própria morada, o dia em que, libertos das cadeias deste mundo, entraremos no paraíso e no reino eterno. Quem não tem pressa de regressar à pátria, quando anda longe dela? Para nós a pátria é o Paraíso. Lá nos espera um grande número de entes queridos, lá nos aguardam os nossos pais, os nossos irmãos, os nossos filhos, em festiva e alegre companhia, seguros já da própria felicidade e solícitos da nossa salvação. Que alegria, tanto para eles como para nós, poder vê-los e abraçá-los a todos! Que felicidade, naquele reino celeste, nunca mais temermos a morte, mas gozarmos da vida para sempre! 

Ali está o coro glorioso dos Apóstolos, a milícia exultante dos Profetas, a multidão inumerável dos mártires, coroados de glória pelo triunfo do combate e dos tormentos; ali estão as virgens triunfantes, que venceram a concupiscência da carne e do corpo com a virtude da continência; ali são recompensados os misericordiosos, que praticaram obras da justiça, alimentando e socorrendo com os seus bens os pobres, e assim observaram os preceitos do Senhor, transformando os bens terrenos em tesouros celestes. Apressemo-nos, irmãos caríssimos, com todo o entusiasmo, a juntar-nos à companhia destes bem-aventurados. Veja Deus este nosso pensamento, contemple Cristo este propósito da nossa mente e da nossa fé, porque tanto maior será a recompensa do seu amor, quanto mais ardente for o desejo de chegarmos à sua presença.



Do Tratado de São Cipriano, bispo e mártir, sobre a morte

(Cap. 18.24.26: CSEL 3, 308.312-314) (Sec. III)

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Santa Catarina de Alexandria


Nascida em Alexandria, recebeu uma ótima formação cristã. É uma das mais célebres mártires dos primeiros séculos, um dos Santos Auxiliadores. O pai, diz a lenda, era Costes, rei de Alexandria. Ela própria era, aos 17 anos, a mais bonita e a mais sábia das jovens de todo o império; esta sabedoria levou-a a ser muitas vezes invocada pelos estudantes. Anunciou que desejava casar-se, contanto que fosse com um príncipe tão belo e tão sábio como ela. Esta segunda condição embargou que se apresentasse qualquer pretendente.

“Será a Virgem Maria que te procurará o noivo sonhado”, disse-lhe o ermitão Ananias, que tinha revelações. Maria aparece, de fato, a Catarina na noite seguinte, trazendo o Menino Jesus pela mão. “Gostas tu d’Ele?”, perguntou Maria. -“Oh, sim”. -“E tu, Jesus, gostas dela?” -“Não gosto, é muito feia”. Catarina foi logo ter com Ananias: “Ele acha que sou feia”, disse chorando. -“Não é o teu corpo, é a tua alma orgulhosa que Lhe desagrada”, respondeu o eremita. Este instruiu-a sobre as verdades da fé, batizou-a e tornou-a humilde; depois disto, tendo-a Jesus encontrado bela, a Virgem Santíssima meteu aos dois o anel no dedo; foi isto que se ficou chamando desde então o “casamento místico de Santa Catarina”.

Ansiosa de ir ter com o seu Esposo celestial, Catarina ficou pensando unicamente no martírio. Conta-se que ela apresentou-se em nome de Deus, diante do perseguidor, imperador Maxêncio, a fim de repreendê-lo por perseguir aos cristãos e demonstrar a irracionalidade e inutilidade da religião pagã. Santa Catarina, conduzida pelo Espírito Santo e com sabedoria, conseguiu demonstrar a beleza do seguimento de Jesus na sua Igreja. Incapaz de lhe responder, Maxêncio reuniu para a confundir os 50 melhores filósofos da província que, além de se contradizerem, curvaram-se para a Verdade e converteram-se ao Cristianismo, isto tudo para a infelicidade do terrível imperador.

Maxêncio mandou os filósofos serem queimados vivos, assim como à sua mulher Augusta, ao ajudante de campo Porfírio e a duzendos oficiais que, depois de ouvirem Catarina, tinham-se proclamado cristãos. Após a morte destes, Santa Catarina foi provada na dor e aprovada por Deus no martírio, tendo sido sacrificada numa máquina com quatro rodas, armadas de pontas e de serras. Isto aconteceu por volta do ano 305. O seu culto parece ter irradiado do Monte Sinai; a festa foi incluída no calendário pelo Papa João XXII (1316-1334).


Ó Santa Catarina, que sois a protetora contra os acidentes de trabalho, olhai por mim que estou sujeito diariamente a inúmeros perigos. Defendei os membros do meu corpo para que eu possa sempre ganhar o pão com o suor de meu rosto, e com a minha saúde perfeita eu seja sempre o auxílio da minha família. Por Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.


Santa Catarina de Alexandria, rogai por nós!

Participação dos mártires na vitória de Cristo, cabeça da Igreja


Eu, Paulo, prisioneiro pelo nome de Cristo, quero falar-vos das tribulações que suporto cada dia, para que, inflamados no amor de Deus, comigo louveis o Senhor, porque é eterna a sua misericórdia. 

Este cárcere é realmente a imagem do inferno eterno: além de suplícios de todo o gênero, tais como algemas, grilhões, cadeias de ferro, tenho de suportar o ódio, as agressões, calúnias, palavras indecorosas, repreensões, maldades, juramentos falsos e, além disso, as angústias e a tristeza. Mas Deus, que outrora libertou os três jovens da fornalha ardente, está sempre comigo e libertou-me destas tribulações, convertendo-as em suave doçura, porque é eterna a sua misericórdia. 

Imerso nestes tormentos, que costumam aterrorizar os outros, pela graça de Deus sinto-me alegre e contente, porque não estou só, mas estou com Cristo. 

O nosso divino Mestre é quem leva todo o peso da cruz, impondo-me apenas uma pequena parcela. Ele não é apenas espectador do meu combate, mas também combatente e vencedor em toda esta luta. Por isso é sobre a sua cabeça que se impõe a coroa da vitória, e nela participam todos os seus membros. 

Como posso eu suportar este espetáculo, ao ver todos os dias os imperadores, mandarins e seus guardas blasfemar o vosso santo nome, Senhor, que estais sentado sobre os Querubins e os Serafins?Vede como a vossa cruz é calcada aos pés dos pagãos! Onde está a vossa glória? Ao ver tudo isto, sinto inflamar-se o meu coração no vosso amor e prefiro ser dilacerado e morrer em testemunho da vossa infinita bondade. 

Mostrai, Senhor, o vosso poder, salvai-me e amparai-me, para que na minha fraqueza se manifeste a vossa força e seja glorificada diante dos gentios, não aconteça que eu vacile pelo caminho e os inimigos se orgulhem na sua soberba. 

Ouvindo tudo isto, caríssimos irmãos, tende coragem e alegrai-vos, dai graças eternamente a Deus, de quem procedem todos os bens, bendizei comigo ao Senhor, porque é eterna a sua misericórdia. 

Louvai o Senhor, todas as nações, aclamai-O, todos os povos, porque Deus escolheu o que é fraco para confundir o forte, escolheu o que é insignificante e desprezível para confundir o que se julga nobre. Pela minha boca e inteligência confundiu os mestres deste mundo, porque é eterna a sua misericórdia. 

Escrevo todas estas coisas, para que estejam unidas a vossa e a minha fé. No meio desta tempestade, lanço a âncora que me permitirá subir até ao trono de Deus: a esperança viva que está no meu coração. 

Caríssimos irmãos, correi de modo que alcanceis a coroa da vitória, revesti-vos com a couraça da fé, tomai as armas de Cristo e combatei à direita e à esquerda, como ensina São Paulo, meu patrono. É melhor para vós entrar na vida sem os olhos ou debilitados, do que, com todos os membros, serdes lançados fora. 

Ajudai-me com as vossas orações, a fim de que possa combater segundo as regras, combater o bom combate, combater até ao fim, de modo que termine felizmente a minha carreira. Se já não nos virmos nesta vida, encontrar-nos-emos na felicidade da vida futura, quando, na presença do Cordeiro imaculado, num só coração e numa só alma, cantarmos eternamente a alegria da vitória. Amém.


Das Cartas de São Paulo Le-bao-Tinh aos alunos do Seminário de Ke-Vinh, escritas no ano 1843 (Launay, A.: Le clergé tonquinois et ses prêtres martyrs, MEP, Paris 1925, pp. 80-83)

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Santo André Dung-Lac e companheiros


Hoje homenageamos um grupo de cento e dezessete mártires vietnamitas. A maioria viveu e pregou entre os anos 1830 e 1870. Dentre eles muito se destacou o padre dominicano André Dung-Lac, tomado como exemplo maior dessas sementes da Igreja católica vietnamita. 

Filho de pais muito pobres, que o confiaram desde pequeno à guarda de um catequista, ordenou-se sacerdote em 1823. Durante seu apostolado foi vigário e missionário em diversas partes do país. Seu apostolado rendeu a ele muitas prisões durante a vida, mas geralmente seus companheiros o resgatavam a preço de pagamentos em dinheiro. 

Mas André não gostava desses resgates. Ele sabia que era necessário dar a Vida pelo Cristo para recebê-la de volta em plenitude. Dizia ao seus companheiros: "Aqueles que morrem pela fé sobem ao céu. Ao contrário, nós que nos escondemos continuamente gastamos dinheiro para fugir dos perseguidores. Seria melhor deixar-nos prender e morrer". 

Finalmente, foi decapitado em 24 de novembro de 1839, em Hanói, Vietnã.



Deus de misericórdia, que na sua bondade escolhestes Santo André e tantos outros homens e mulheres vietnamitas para propagar vosso evangelho em terras hostis, dai-nos a disposição necessária para realizar o mesmo apostolado em nossas comunidades. Por Cristo nosso Senhor. Amém.

Ai da alma em que não habita Cristo!


Assim como outrora Deus, irritado contra os judeus, entregou Jerusalém à afronta dos seus inimigos e ela foi dominada por aqueles que a odiavam, ficando sem poder celebrar festas nem sacrifícios, assim também agora Deus, irado contra a alma que transgride os seus mandamentos, a entrega ao poder dos mesmos inimigos que a seduziram e que a desfiguram completamente. 

E assim como uma casa que não é habitada pelo dono, fica abandonada às trevas, à infâmia e ao desprezo, e se enche de lixo e imundície, assim também a alma, privada do seu Senhor que antes habitava nela com os seus Anjos, se enche das trevas do pecado, de paixões iníquas e de toda a ignomínia. 

Ai do caminho que ninguém percorre, em que não se ouve uma voz humana, porque depressa se converte em asilo de animais! Ai da alma por onde o Senhor não passa, fazendo ouvir a sua voz para afugentar as feras espirituais da maldade! Ai da terra que não tem agricultor para a trabalhar! Ai do barco sem timoneiro: batido pelas ondas e tempestades do mar, acaba por naufragar! Ai da alma que não leva consigo o verdadeiro timoneiro que é Cristo: envolvida num violento mar de trevas, batida pelas ondas das suas paixões, impelida pela tempestade invernal dos espíritos malignos, caminha miseravelmente para o naufrágio! 

Ai da alma privada de Cristo, o único que a pode cultivar diligentemente para a fazer produzir os bons frutos do Espírito: assim abandonada, cheia de espinhos e abrolhos, em vez de dar frutos, acaba na fogueira! Ai da alma em que não habita Cristo, o seu Senhor: assim abandonada, começa a emanar fétidas paixões e acaba por se converter num antro de vícios! Assim como o agricultor que quer trabalhar a terra escolhe os instrumentos mais apropriados e veste a roupa mais aconselhável para esse trabalho, também Cristo, o rei celeste e verdadeiro agricultor, vindo ao encontro da humanidade devastada pelo pecado, assumiu um corpo humano e, tomando a cruz como instrumento de trabalho, cultivou a alma abandonada, libertou-a dos espinhos e abrolhos dos maus espíritos, arrancou dela o joio do mal e lançou ao fogo toda a palha dos seus pecados; e tendo-a assim trabalhado com o madeiro da cruz, plantou nela o ameníssimo jardim do Espírito, que produz toda a espécie de frutos saborosos e agradáveis para Deus, que é o seu Senhor.



Das Homilias atribuídas a São Macário, bispo

(Hom. 28: PG 34, 710-711) (Sec. IV)

terça-feira, 22 de novembro de 2016

São Clemente I


Clemente foi o quarto Papa da Igreja de Roma, ainda no primeiro século. Vivia em Roma e foi contemporâneo de São João Evangelista, São Felipe e São Paulo. A antiga tradição cristã o apresenta como filho do senador Faustino da família Flavia, parente do imperador Domiciano. 

Governou a Igreja por longo período, do ano 88 ao 97, no qual levou avante a evangelização com firmemente centrada nos princípios da doutrina. Foi considerado o autor da célebre Carta aos coríntios. Através da Carta, Clemente I os animou a perseverarem na fé, na caridade ensinada por Cristo e participarem da união com a Igreja. 

Restabeleceu o uso da Crisma, seguindo a tradição de São Pedro e instituiu o uso da expressão "Amém" nos ritos religiosos. Com sua atuação séria e exemplar converteu até Domitila, irmã do imperador Domiciano, fato que ajudou muito para amenizar a sangrenta perseguição aos cristãos. 

Por causa de suas ações o papa Clemente I acabou exilado na Criméia, onde encontrou milhares de cristãos abandonados. Passou a encorajá-los a perseverarem na fé e converteu muitos outros pagãos. Novamente suas atitudes desagradaram as lideranças pagãs. O imperador mandou jogá-lo no mar Negro com uma âncora amarrada no pescoço. Tudo aconteceu no dia 23 de novembro do ano 101.



Senhor Jesus, vós que confiastes a Pedro o cuidado de vossas ovelhas, infundi vosso Espírito em vosso sucessor, o Papa. Que ele se alimente de vossa vontade e guie a Igreja segundo os desígnios do Pai que Vós mesmo revelastes. Amém.

Cantai a Deus com arte e com júbilo


Dai graças ao Senhor com a cítara, tocai em sua honra o saltério de dez cordas. Cantai-Lhe um cântico novo. Despojai-vos do homem velho, pois conheceis já o cântico novo. Homem novo, testamento novo, cântico novo. O cântico novo não é para homens velhos. Só o aprendem os homens novos, que foram renovados pela graça despojando-se do pecado e pertencem já ao novo testamento que é o reino dos Céus. Por ele suspira todo o nosso amor e lhe canta um cântico novo. Cante-lhe um cântico novo, não a nossa língua, mas a nossa vida.

Cantai-Lhe um cântico novo, cantai-Lhe com arte e com alma. Cada qual pergunta como há-de cantar ao Senhor. Canta para Ele, mas não cantes mal. Deus não quer ouvir um cântico que ofenda os seus ouvidos. Cantai bem, irmãos. Se te pedem que cantes para um bom apreciador de música de modo que lhe agrade, não te atreves a cantar se não tens preparação musical, pelo receio de lhe desagradar, porque um bom artista notará os defeitos que a qualquer outro passam despercebidos. Quem se atreverá a cantar para Deus, tão excelente conhecedor de cantores, juiz tão completo e tão bom apreciador de música? Como poderás oferecer-Lhe tão excelente audição de canto que em nada ofendas ouvidos tão perfeitos?

Mas eis que Ele mesmo te sugere a maneira como Lhe hás de cantar. Não andes à procura de palavras, como se com elas pudesses expressar aquilo que agrada a Deus. Canta com júbilo. Cantar bem para Deus é cantar com júbilo. Que é cantar com júbilo? Compreender e não poder explicar com palavras o que se canta com o coração. Os que cantam na colheita, na vindima ou em qualquer trabalho intenso, começam a exultar de alegria com as palavras do cântico; mas depois, quando cresce a emoção, sentem que já não podem explicá-la por palavras, desprendem-se da letra das palavras e entregam-se totalmente à melodia jubilosa.

O «júbilo» é aquela melodia que traduz a incapacidade de exprimir por palavras o que sente o coração. E a quem pode consagrar-se este cântico de júbilo senão ao Deus inefável? É realmente inefável Aquele que não podes dar a conhecer por palavras. E se não tens palavras para O dar a conhecer e não deves permanecer calado, nada mais te resta senão cantar com júbilo. Sim, para que o coração possa expandir a imensidade superabundante da sua alegria sem se ver cortado pelas sílabas das palavras, cantai ao Senhor com arte e com júbilo.


Dos Comentários de Santo Agostinho, bispo, sobre os Salmos

(Ps. 32, sermo 1, 7-8: CCL 38, 253-254) (Sec. V)