Existe uma experiência que na vida cristã não se pode ignorar. É a experiência da Cruz. Não é uma experiência fácil de assumir e que muitas vezes tentamos escapar da melhor maneira possível. Mas será realmente possível viver uma vida sem a dor? E dando um passo a mais, é possível viver um cristianismo sem Cruz? A resposta é não, Jesus mesmo diz que se queremos segui-lo, precisamos negar-nos a nós mesmos, tomar nossa cruz e, então, segui-lo (Mt 16, 24ss).
Mas Jesus sabe que não é fácil carregar a Cruz. Ele mesmo a carregou com muito esforço até o Monte do Gólgota, onde foi crucificado e morto. Ele sabe que a nossa fé vacila muitas vezes e que a tentação de deixar a nossa cruz de lado é grande. Por isso, em outro monte, o Tabor, Ele permite que alguns dos seus amigos mais próximos experimentem algo que com certeza pôde fortalecer a fé e a esperança deles e que pode fazer o mesmo com a nossa. Estamos falando da Transfiguração do Senhor.
No Oficio das Leituras de hoje podemos ler uma passagem que expressa muito bem o que significa a celebração desse dia: “Para que tivessem firme convicção no íntimo do coração e, mediante as realidades presentes, cressem nas futuras, deu-lhes ver maravilhosamente a divina manifestação do monte Tabor, imagem prefigurada do reino dos céus”.
Pensemos no que significa “imagem prefigurada do reino dos céus”. É uma antecipação daquilo que vamos viver eternamente junto a Deus, se escolhemos, com a ajuda da Graça de Deus, não deixar a nossa Cruz de lado. Se escolhemos caminhar pelo caminho do Calvário até o Gólgota e se nos deixamos crucificar junto com Jesus. Mas isso só é possível se sabemos que a morte não tem a última palavra.
E realmente não tem a última palavra, porque Jesus Ressuscitou. Deus venceu a morte e é Ele que tem a última palavra. Se os discípulos não tinham esse fato para fortalecer a sua fé, com certeza se lembraram do dia da Transfiguração de Jesus para poderem permanecerem com Ele. E sabemos pelos Evangelhos que não foi fácil, tiveram muito medo, inclusive Pedro, que havia presenciado essa transfiguração, chegou a negá-lo.
Mas a experiência de Pedro no momento da Transfiguração foi tão intensa que o levou a exclamar: “Senhor, é bom estarmos aqui”! Essa é a experiência que Deus quer que tenhamos ao seu lado, na oração, na Eucaristia, na Confissão. Quer que experimentemos que o melhor lugar em que possamos pensar é junto a Ele. Por isso nessa festa estamos chamados a buscá-lo com mais ardor, para encontrar nEle as forças para continuarmos sendo fiéis.
Por outro lado, a Transfiguração não é ainda a Ressurreição. Jesus e seus discípulos desceram do Monte Tabor porque ainda tinham uma missão que cumprir. Se era bom estar ali, era urgente anunciar a todos essa bondade, para que mais pessoas pudessem experimentá-la. Nós também somos chamados a, uma vez nutridos dessa esperança da Transfiguração, descer do monte para a nossa vida ordinária e anunciar esse encontro com Jesus, porque muitas pessoas ainda não conhecem essa verdadeira alegria de encontrar-se com Ele.
Que nessa festa possamos encontrar-nos com Jesus e, a partir desse encontro, saiamos a fazer apostolado, anunciando essa experiência com todos que ainda não a tem.
Ó Deus, que na gloriosa Transfiguração de vosso Filho confirmastes os mistérios da fé pelo testemunho de Moisés e Elias, e manifestastes de modo admirável a nossa glória de filhos adotivos, concedei aos vossos servos e servas ouvir a voz do vosso Filho amado, e compartilhar da sua herança. Amém.
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