terça-feira, 5 de julho de 2016

Os que estão fora, quer queiram quer não, são nossos irmãos

 
Irmãos, nós vos exortamos ardentemente à caridade, não só para convosco, mas também para com aqueles que estão fora, quer se trate de pagãos, que ainda não acreditam em Cristo, quer se trate dos que estão separados de nós, que acreditam na Cabeça da Igreja como nós, mas estão separados do Corpo. Tenhamos compaixão deles, que são nossos irmãos. Quer queiram quer não, são nossos irmãos. Só deixarão de ser nossos irmãos, se deixarem de dizer: Pai nosso.

A propósito de alguns diz o Profeta: Àqueles que vos dizem: «Não sois nossos irmãos», respondei: «Sois nossos irmãos». A quem se referia ele ao dizer isto? Aos pagãos? Não, porque segundo o modo de falar da Escritura e da Igreja não se chamam irmãos. Seria aos judeus, que não acreditaram em Cristo?

Lede o Apóstolo e verificai que, ao dizer «irmãos» sem mais nada, o Apóstolo quer referir-se somente aos cristãos: Porque julgas o teu irmão ou porque o desprezas? E noutro lugar: Vós praticais a injustiça e a fraude, e isto com os irmãos.

Portanto os que dizem: «Não sois nossos irmãos», chamam-nos pagãos. E por isso querem batizar-nos de novo, afirmando que nós não temos o que eles dão. Daí vem o seu erro, ao negarem que somos seus irmãos. Mas por que motivo nos disse o Profeta: Dizei-lhe: sois nossos irmãos, senão porque reconhecemos o seu baptismo, e por isso não o repetimos? Por conseguinte, porque não reconhecem o nosso baptismo, eles negam que somos seus irmãos; nós, porém, não repetindo o baptismo deles, mas reconhecendo-o como o nosso, dizemos-lhes: Sois nossos irmãos.

Poderão eles dizer: «Porque nos procurais? Que quereis de nós?». Respondemos: Sois nossos irmãos. Poderão dizer: «Afastai-vos de nós; não temos nada de comum convosco». Mas nós temos algo de comum convosco: reconhecemos um só Cristo, devemos estar num só Corpo, sob uma só Cabeça.

Por isso, nós vos conjuramos, irmãos, pelas entranhas da caridade de cujo leite nos alimentamos e com cujo pão nos fortalecemos, nós vos conjuramos por Cristo, Nosso Senhor, pela sua mansidão: usemos para com eles de grande caridade e abundante misericórdia, rezando a Deus por eles, para que lhes conceda finalmente o sentido de prudência e sabedoria, para que reflitam e compreendam que não podem de modo algum opor-se à verdade; só lhes resta a fraqueza da sua animosidade, que é tanto mais débil quanto mais forte se crê. Oremos por esses homens débeis, sábios segundo a carne, cativos das paixões humanas, mas que são, apesar de tudo, nossos irmãos; eles celebram os mesmos sacramentos, embora os não celebrem conosco, mas que são na realidade os mesmos sacramentos; eles respondem o mesmo Amém, embora não conosco, mas que é o mesmo Amém. Manifestai diante de Deus em seu favor a mais profunda caridade.


Dos comentários de Santo Agostinho, bispo, sobre os salmos
(Ps. 32, 29: CCL 38, 272-273) (Sec. V)

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