sábado, 30 de abril de 2016

São José Operário


A Igreja, providencialmente, nesta data civil marcada, muitas vezes, por conflitos e revoltas sociais, cristianizou esta festa, isso na presença de mais de 200 mil pessoas na Praça de São Pedro, as quais gritavam alegremente: “Viva Cristo trabalhador, vivam os trabalhadores, viva o Papa!” O Papa, em 1955, deu aos trabalhadores um protetor e modelo: São José, o operário de Nazaré.

O santíssimo São José, protetor da Igreja Universal, assumiu este compromisso de não deixar que nenhum trabalhador de fé – do campo, indústria, autônomo ou não, mulher ou homem – esqueça-se de que ao seu lado estão Jesus e Maria. A Igreja, nesta festa do trabalho, autorizada pelo Papa Pio XII, deu um lindo parecer sobre todo esforço humano que gera, dá a luz e faz crescer obras produzidas pelo homem: “Queremos reafirmar, em forma solene, a dignidade do trabalho a fim de que inspire na vida social as leis da equitativa repartição de direitos e deveres.”

São José, que na Bíblia é reconhecido como um homem justo, é quem revela com sua vida que o Deus que trabalha sem cessar na santificação de Suas obras, é o mais desejoso de trabalhos santificados: “Seja qual for o vosso trabalho, fazei-o de boa vontade, como para o Senhor, e não para os homens, cientes de que recebereis do Senhor a herança como recompensa… O Senhor é Cristo” (Col 3,23-24).

São José Operário, rogai por nós!


São José, você, com o seu humilde trabalho de carpinteiro, sustentou a vida de Jesus e de Maria. Você conhece os sofrimentos dos trabalhadores, porque passou isso ao lado de Jesus e de Maria. Não permita que os operários, oprimidos, se esqueçam que foram criados por Deus. Recorda a todos eles que nunca estão sós para trabalhar, mas que junto a eles estão Jesus e Maria para lhes enxugar o suor, proteger e diminuir seus problemas. Amém.

O aleluia pascal




Toda a nossa vida presente deve transcorrer no louvor de Deus, porque louvar a Deus será também a alegria eterna de nossa vida futura. Ora, ninguém pode tornar-se apto para a vida futura se, desde já, não se prepara para ela. Agora louvamos a Deus, mas também rogamos a Deus. Nosso louvor está cheio de alegrias, e nossa oração, de gemidos. Foi-nos prometido algo que ainda não possuímos; porém, por ser feliz quem o prometeu, alegramo-nos na esperança; mas, como ainda não estamos na posse da promessa, gememos de ansiedade. É bom perseverarmos no desejo, até que a promessa se realize; então acabará o gemido e permanecerá somente o louvor.

Assim podemos considerar duas fases da nossa existência: a primeira, que acontece agora em meio às tentações e dificuldades da vida presente; e a segunda, que virá depois na segurança e alegria eterna. Por isso, foram instituídas para nós duas celebrações: a do tempo antes da Páscoa e a do tempo depois da Páscoa.

O tempo antes da Páscoa representa as tribulações que passamos nesta vida. O que celebramos agora, depois da Páscoa, significa a felicidade que alcançamos na vida futura. Portanto, antes da Páscoa celebramos o que estamos vivendo; depois da Páscoa celebramos e significamos o que ainda não possuímos. Eis porque passamos o primeiro tempo em jejuns e orações; no segundo, porém, que estamos celebrando, deixando os jejuns, nos dedicamos ao louvor de Deus. É este o significado do Aleluia que cantamos.

Em Cristo, nossa cabeça, ambos os tempos foram figurados e manifestados. A paixão do Senhor mostra-nos as dificuldades da vida presente, em que é preciso trabalhar, sofrer e por fim morrer. A ressurreição e glorificação do Senhor nos revelam a vida que um dia nos será dada.

Agora, pois, irmãos, vos exortamos a louvar a Deus. É isto o que todos nós exprimimos mutuamente quando cantamos: Aleluia. Louvai o Senhor, dizemos nós uns aos outros. E assim todos põem em prática aquilo que se exortam mutuamente. Mas louvai-o com todas as vossas forças, isto é, louvai a Deus não só com a língua e a voz, mas também com a vossa consciência, vossa vida, vossas ações.

Na verdade, louvamos a Deus agora que nos encontramos reunidos na igreja. Mas logo ao voltarmos para casa, parece que deixamos de louvar a Deus. Não deixes de viver santamente e louvarás sempre a Deus. Deixas de louvá-lo quando te afastas da justiça e do que lhe agrada. Mas, se nunca te desviares do bom caminho, ainda que tua língua se cale, tua vida clamará; e o ouvido de Deus estará perto do teu coração. Porque assim como nossos ouvidos escutam nossas palavras, assim os ouvidos de Deus escutam nossos pensamentos.



Dos Comentários sobre os salmos, de Santo Agostinho, bispo
(Ps 148,1-2:CCL 40,2165-2166)        (Séc.V)

sexta-feira, 29 de abril de 2016

São Pio V


Antonio Miguel nasceu em 1504 na província de Alexandria e, aos quatorze anos ingressou na congregação dos dominicanos. Depois que se ordenou sacerdote, sua carreira atravessou todas as etapas de maneira surpreendente. Foi professor, prior de convento, superior provincial, cardeal, inquisidor, bispo e finalmente, Papa, tomando o nome de Pio Quinto. Foi um grande reformador da Igreja.

Assim que assumiu foi procurado em Roma, por dezenas de parentes. Não deu "emprego" a nenhum, afirmando ainda que um parente do Papa, se não estiver na miséria, "já está bastante rico". Implantou ainda outras mudanças no campo pastoral: a obrigação de residência para os bispos, a clausura dos religiosos, o celibato e a santidade de vida dos sacerdotes, as visitas pastorais dos bispos, o incremento das missões e a censura das publicações para publicações religiosas. O Papa Pio Quinto é venerado por ter unido a Europa, acabando com as guerras internas. Chegou a excomungar a rainha da Inglaterra, Elisabete Primeira. Papa Pio Quinto morreu no dia primeiro de maio de 1572.



Deus eterno e todo-poderoso, quiseste que São Pio V governasse todo o vosso povo, servindo-o pela palavra e pelo exemplo. Guardai, por suas preces, os pastores de vossa Igreja e as ovelhas a eles confiadas, guiando-os no caminho da salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Provei e vi


Ó Divindade eterna, ó eterna Trindade, que pela união da natureza divina tanto fizeste valer o sangue de teu Filho unigênito! Tu, Trindade eterna, és como um mar profundo, onde quanto mais procuro mais encontro; e quanto mais encontro, mais cresce a sede de te procurar. Tu sacias a alma, mas de um modo insaciável; porque, saciando-se no teu abismo, a alma permanece sempre sedenta e faminta de ti, ó Trindade eterna, cobiçando e desejando ver-te à luz de tua luz.

Provei e vi em tua luz com a luz da inteligência, o teu insondável abismo, ó Trindade eterna, e a beleza de tua criatura. Por isso, vendo-me em ti, vi que sou imagem tua por aquela inteligência que me é dada como participação do teu poder, ó Pai eterno, e também da tua sabedoria, que é apropriada ao teu Filho unigênito. E o Espírito Santo, que procede de ti e de teu Filho, deu-me a vontade que me torna capaz de amar-te.

Pois tu, ó Trindade eterna, és criador e eu criatura; e conheci – porque me fizeste compreender quando de novo me criaste no sangue de teu Filho – conheci que estás enamorado pela beleza de tua criatura.

Ó abismo, ó Trindade eterna, ó Divindade, ó mar profundo! Que mais poderias dar-me do que a ti mesmo? Tu és um fogo que arde sempre e não se consome. Tu és que consomes por teu calor todo o amor profundo da alma. Tu és de novo o fogo que faz desaparecer toda frieza e iluminas as mentes com tua luz. Com esta luz me fizeste conhecer a verdade.

Espelhando-me nesta luz, conheço-te como Sumo Bem, o Bem que está acima de todo bem, o Bem feliz, o Bem incompreensível, o Bem inestimável, a Beleza que ultrapassa toda beleza, a Sabedoria superior a toda sabedoria. Porque tu és a própria Sabedoria, tu,o pão dos anjos, que no fogo da caridade te deste aos homens.

Tu és a veste que cobre minha nudez; alimentas nossa fome com a tua doçura, porque és doce sem amargura alguma. Ó Trindade eterna!



Do Diálogo sobre a divina Providência, de Santa Catarina de Sena
(Cap. 167, Gratiarum actio ad Trinitatem: ed.lat., Ingolstadi 1583, f.290v-291) (Séc.XIV)

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Santa Catarina de Sena


Catarina nasceu em 25 de março de 1347, na cidade de Sena, na Itália. Seus pais eram muito pobres e sua família era numerosa. Catarina teve uma infância conturbada. Não pode estudar, cresceu franzina e viveu sempre doente. Carregava no corpo os estigmas da Paixão de Cristo. Ainda jovem, Catarina tornou-se uma irmã leiga da Ordem Terceira Dominicana.

Tinha visões durante as orações contemplativas e fazia rigorosas penitências. Já adulta enfrentou a dificuldade que muitos achariam impossível de ser vencida: o cisma católico. Catarina, mesmo analfabeta, assume a missão de reunir de novo a Igreja em torno de um só papa.

Dois Papas disputavam o trono de Pedro, dividindo a Igreja e fazendo sofrer a população católica em todo o mundo. Ela viajou por toda a Itália e outros países, ditou cartas a reis, príncipes e governantes católicos, cardeais e bispos e conseguiu que o Papa legítimo, Gregório décimo primeiro, retomasse sua posição e voltasse para Roma. Fazia setenta anos que o Papado estava em Avinhão e não em Roma.

Outra dificuldade foi a peste que matou pelo menos um terço da população européia. Ela lutou pelos doentes, curou com as próprias mãos e orações. Estava à frente dos padrões de sua época, quando a participação da mulher na Igreja era quase nula ou inexistente.

Em meio a tudo isso, deixou obras literárias ditadas de alto valor histórico, místico e religioso. O livro: "Diálogo sobre a Divina Providência", é lido, estudado e respeitado até hoje. Catarina de Sena morreu no dia 29 de abril de 1380, após sofrer um derrame aos trinta e três anos de idade. Foi declarada "Doutora da Igreja" pelo Papa Paulo VI, em 1970 e mais tarde foi escolhida como patrona da Itália, junto com São Francisco.  


Trindade eterna, vós sois um mar profundo, no qual, quanto mais procuro, mais encontro. E quanto mais encontro, mais vos procuro. Sois o Fogo que queima sempre e nunca se consome. Sois o Fogo que tira todo frio, que ilumina todas as inteligências e, pela vossa luz, me fizestes conhecer a verdade. Na luz da fé adquiro a sabedoria, na sabedoria do vosso Filho único; na luz da fé, torno-me forte e constante persevero. Na luz da fé, espero que não me deixareis sucumbir no caminho".

A eucaristia, páscoa do Senhor


Um só morreu por todos. É ele mesmo que em todas as igrejas do mundo, pelo mistério do pão e do vinho, imolado, nos alimenta, acreditado, nos vivifica e, consagrado, santifica os que o consagram.

Esta é a carne e este é o sangue do Cordeiro. É o mesmo pão descido do céu que diz: O pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo (Jo 6,51). Também o seu sangue está expresso sob a espécie do vinho. Ele mesmo afirma no Evangelho: Eu sou a videira verdadeira (Jo 15,1), manifestando com toda clareza que é seu sangue todo vinho oferecido como sacramento da paixão. O grande patriarca Jacó já profetizara acerca de Cristo, ao dizer: Lavará no vinho a sua túnica e no sangue da uva o seu manto (Gn 49,11). Na verdade, haveria de lavar no seu próprio sangue a túnica do nosso corpo, que tomara sobre si como uma veste.

O Criador e Senhor da natureza, que produz o pão da terra, também transforma o pão no seu próprio Corpo (porque pode fazê-lo e assim havia prometido); do mesmo modo, aquele que transformou a água em vinho, transforma o vinho no seu sangue.

Diz a Escritura: É a páscoa do Senhor (Ex 12,11), isto é, a passagem do Senhor. Por isso não julguemos terrestres os elementos que se tornaram celestes, porque o Senhor “passou” para essas realidades terrestres e transformou-as no seu corpo e no seu sangue.

O que recebes é o corpo daquele pão do céu, e o sangue é daquela videira sagrada. Porque, ao dar o pão e o vinho consagrados a seus discípulos, disse-lhes: Isto é o meu corpo. Isto é o meu sangue (Mt 26,26.28). Acreditemos, portanto, naquele em quem pusemos a nossa confiança: a Verdade não sabe mentir.

Quando Jesus falava sobre a necessidade de comer seu corpo e de beber seu sangue, a multidão, desconcertada, murmurava: Esta palavra é dura! Quem consegue escutá-la? (Jo 6,60). Querendo purificar com o fogo celeste tais pensamentos – que deveis evitar, como já vos disse – ele acrescentou: O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida (Jo 6,63).



Dos Tratados de São Gaudêncio de Bréscia, bispo
(Tract.2:CSEL68,26.29-30)            (Séc.IV)

quarta-feira, 27 de abril de 2016

São Pedro Chanel


Lembramos hoje a vida do grande missionário São Pedro Chanel. Nascido em Cuet em 1803, de uma família do campo, Pedro fez sacerdote na diocese de Turim.

Desde o seminário Pedro se encantava com a leitura sobre Missões. Respondendo ao apelo de Deus, entrou para a Sociedade de Maria e foi evangelizar as regiões e ilhas da Oceania, Atlântico e Pacífico.

Em 1837 partiu em companhia de um confrade leigo para Futuna, uma pequena ilha no Oceano Pacífico, no arquipélago de Tonga. Chegou a conseguir a simpatia dos mais jovens pela sua doutrina e pela sua presença pessoal.

Por outro lado, levantou a hostilidade dos mais velhos, ciosos de suas tradições e costumes, ameaçados pelo "sacerdote branco". Nessa ilha, a guerra estava tomando conta do povo, que estava dividido por duas tribos.

Avisado pelos amigos do risco que corria e para que deixasse a ilha, São Pedro ignorou o aviso e decidiu permanecer e continuar a pregação. Foi morto a golpes de "tacape" no dia 28 de abril de 1841. Seu sacrifício não foi em vão. A semente de sua pregação germinou e todos os habitantes acolheram o cristianismo

São Pedro Maria Chanel foi declarado padroeiro da Oceania em 1954.  



Ó Deus de admirável providência, que, no mártir São Pedro Maria Chanel destes ao vosso povo pastor corajoso e forte, concedei-nos, pela sua intercessão, ajuda nas tribulações e firme constância na fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Os cristãos no mundo




Os cristãos não se diferenciam dos outros homens nem pela pátria nem pela língua nem por um gênero de vida especial. De fato, não moram em cidades próprias, nem usam linguagem peculiar, e a sua vida nada tem de extraordinário. A sua doutrina não procede da imaginação fantasista de espíritos exaltados, nem se apoia em qualquer teoria simplesmente humana, como tantas outras.

Moram em cidades gregas ou bárbaras, conforme as circunstâncias de cada um; seguem os costumes da terra, quer no modo de vestir, quer nos alimentos que tomam, quer em outros usos; mas o seu modo de viver é admirável e passa aos olhos de todos por um prodígio. Habitam em suas pátrias, mas como de passagem; têm tudo em comum como os outros cidadãos, mas tudo suportam como se não tivessem pátria. Todo país estrangeiro é sua pátria e toda pátria é para eles terra estrangeira. Casam-se como toda gente e criam seus filhos, mas não rejeitam os recém-nascidos. Têm em comum a mesa, não o leito.

São de carne, porém, não vivem segundo a carne. Moram na terra, mas sua cidade é no céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas com seu gênero de vida superam as leis. Amam a todos e por todos são perseguidos. Condenam-nos sem os conhecerem; entregues à morte, dão a vida. São pobres, mas enriquecem a muitos; tudo lhes falta e vivem na abundância. São desprezados, mas no meio dos opróbrios enchem-se de glória; são caluniados, mas transparece o testemunho de sua justiça. Amaldiçoam-nos e eles abençoam. Sofrem afrontas e pagam com honras. Praticam o bem e são castigados como malfeitores; ao serem punidos, alegram-se como se lhes dessem a vida. Os judeus fazem-lhes guerra como a estrangeiros e os pagãos os perseguem; mas nenhum daqueles que os odeiam sabe dizer a causa do seu ódio.

Numa palavra: os cristãos são no mundo o que a alma é no corpo. A alma está em todos os membros do corpo; e os cristãos em todas as cidades do mundo. A alma habita no corpo, mas não provém do corpo; os cristãos estão no mundo, mas não são do mundo. A alma invisível é guardada num corpo visível; todos veem os cristãos, pois habitam no mundo, contudo, sua piedade é invisível. A carne, sem ser provocada, odeia e combate a alma, só porque lhe impede o gozo dos prazeres; o mundo, sem ter razão para isso, odeia os cristãos precisamente porque se opõem a seus prazeres.

A alma ama o corpo e seus membros, mas o corpo odeia a alma; também os cristãos amam os que os odeiam. Na verdade, a alma está encerrada no corpo, mas é ela que contém o corpo; os cristãos encontram-se detidos no mundo como numa prisão, mas são eles que abraçam o mundo. A alma imortal habita numa tenda mortal; os cristãos vivem como peregrinos em moradas corruptíveis, esperando a incorruptibilidade dos céus. A alma aperfeiçoa-se com a mortificação na comida e na bebida; os cristãos, constantemente mortificados, veem seu número crescer dia a dia. Deus os colocou em posição tão elevada que lhes é impossível desertar.



Da Carta a Diogneto
(N.5-6: Funk 1,317-321)   (Séc.II)